A conferência de Cancún foi a conclusão de uma concorrida agenda climática para 2010. Apesar das baixas expectativas, entregou mais do que se esperava, menos do que deveria e mostrou que a governança global implica sim em concessões ao conceito de soberania nacional.
Durante a semana, e reforçado pelo apelo dramático do Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, havia uma sensação geral de que o que estava sendo colocado à prova na COP-16 não era a capacidade maior ou menor dos países de chegar a um acordo razoável sobre as mudanças climáticas.
O que estava sendo colocado à prova era a própria capacidade do sistema multilateral de dar respostas reais às crescentes demandas de uma governança global sem a tutela das outrora grandes potências, a exemplo do Conselho de Segurança da ONU.
O grande desafio é a maioridade de um sistema que tem como principal atribuição a arbitragem do que representa "responsabilidades comuns, porém compartilhadas", tratando cada delegação nacional como soberana, mas cada uma, igualmente, indispensável à grande concertação.
O fracasso sucessivo na implantação de diversas políticas convencionadas no sistema multilateral, na ultima década, chegou a provocar declarações de que as ONGs e o setor privado deveriam pressionar para mostrar que a sociedade global não toleraria mais um fracasso.
Em maior ou menor grau, Cancún mostrou que, apesar dos tímidos avanços, não há como dispensar a participação desses setores nas COP.
Assim, quase que de forma caótica, as COP vão desenhando um novo espaço para a expressão das dinâmicas globais. A convergência do mundo multilateral, do setor privado global e das ONGs se tornou inevitável.
Durban, fase derradeira do que realmente interessa: a Rio +20, convoca a todos para um engajamento ainda mais radical para o desenlace positivo de um acordo duradouro já em 2011. As sementes desta possibilidade estão contidas no precário acordo de Cancún, mas não fertilizarão sem o cuidado zeloso de todas as partes interessadas.
Assim, alvissareira foi a ideia da União Global pela Sustentabilidade, que surgiu como uma possibilidade real de convergência.
ONGs e empresas brasileiras, em parcerias com organismos internacionais, estão propondo uma reunião preparatória para a Rio +20 em setembro de 2011, com o objetivo de demonstrar que, enquanto os delegados arrancam acordos a fórceps, a sociedade civil mundial e o setor privado já têm os elementos fundamentais para balizar uma nova economia de baixo carbono.
RICARDO YOUNG escreve às segundas-feiras nesta coluna.