Paula Crepaldi – paula@isps.org.br
As relações no âmbito privado, com a família e com os animais, são para o paulistano um espaço de proteção “frente à cidade e a essas políticas de maneira geral, à violência e às dificuldades de transporte”. Dessa forma Sérgio Haddad, coordenador geral da Ação Educativa e presidente do Fundo Brasil de Direitos Humanos, resumiu o que considera a conclusão central da pesquisa Nossa São Paulo/Ibope, apresentada nesta terça (19/1), no Sesc Consolação. A pesquisa reúne dados sobre bem-estar em 25 temas e a avaliação do paulistano sobre a qualidade dos serviços públicos, o grau de confiança nas instituições e a percepção da população sobre a segurança na cidade.
O evento que lotou o teatro do Sesc também contou com a presença de outros especialistas para comentar os temas pesquisados: o ex-ministro da saúde e cardiologista Adib Jatene; o economista Ladislau Dowbor, o arquiteto e urbanista Jorge Wilheim; Maurício Piragino e Pedro Aguirre, da Escola de Governo, e Maria Alice Setúbal, educadora e presidente do Cenpec e diretora-presidente da Fundação Tide Setubal.
Maria Alice se disse impressionada com a baixa avaliação que o tema Infância e Adolescência recebeu dos entrevistados (média 4,3, em uma escala de zero a 10). De acordo com ela, os dados batem com a baixa avaliação em relação à Assistência Social, também revelada no levantamento (média 3,9). “Pessoas ligadas a governos e ONGs que têm base na periferia percebem a falta de políticas de assistência social na cidade.”
Para Maria Alice, os resultados mostram também a ausência “de articulação das escolas com os conselhos tutelares e equipamentos de proteção [à infância e adolescência] em geral”. A solução, afirma a educadora, é a implantação de políticas de educação integral em articulação com as secretarias de saúde e esportes, “para que a gente possa dar algum salto nestas questões da desigualdade social”.
Pedro Aguerre, da Escola de Governo, comentou que os resultados do Ibope mostram que as pessoas na cidade “almejam por muito maior solidariedade, se sentem em condições de assumir responsabilidades compartilhadas e almejam por uma cultura de paz”. E completou: “há expectativas de maior protagonismo e participação na vida da cidade”.
Na contramão da vontade de maior participação apontada na pesquisa, Piragino apontou um problema que vem ocorrendo na administração municipal em São Paulo: “as duas últimas gestões trabalham no sentido da centralização [perda de poder das subprefeituras]”. Para Piragino, a troca constante de subprefeitos, a alocação de gestores de outros municípios para exercerem a função de subprefeito em São Paulo, aliado ao “problema crônico” de ser um cargo sujeito a “barganha política”, são fatores que fragilizam a gestão local.
O economista Ladislau Dowbor comemorou a apresentação dos indicadores. “Pela primeira vez, São Paulo está começando a tomar as rédeas de seu destino. Isso é muito importante, porque não vai aparecer Papai Noel ou super homem para resolver as coisas por nós”. E apontou o desafio para gestores públicos e organizações sociais: “temos que ter a visão pragmática de responder à qualidade de vida das populações.”
Confira a apresentação da pesquisa resumida
Veja a pesquisa completa
Confira a repercussão na mídia sobre o IRBEM