Daniel Piza
O busto do escritor está atrás, num dos pequenos gramados da Praça Dom José Gaspar, quase escondido entre as árvores, com uma pichação indecifrável na lateral da base de pedra – e de costas para a torre art déco de 22 andares da biblioteca que leva seu nome, na esquina da Avenida São Luís com a Rua da Consolação, poucos metros acima da Ladeira da Memória. Mesmo assim, ele poderia sorrir. Erguida para conservar a memória cultural de São Paulo, a Biblioteca Mário de Andrade será reaberta na íntegra no aniversário da cidade, em 25 de janeiro, depois de passar décadas sofrendo “deterioração crônica”.
A expressão é da atual diretora, Maria Christina Barbosa de Almeida, no cargo desde 2009. Ela não está exagerando quando diz que a biblioteca estava “quase morta”, apesar de uma pequena reforma realizada em 1992, na gestão de Luiza Erundina (1989-1993).
Nos anos seguintes, a instituição parou de adquirir títulos e, pior, não tinha nem sequer condições de manter bem seu patrimônio de mais de 320 mil livros, dos quais 51 mil são classificados como raros. Foi só com o investimento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) de R$ 23 milhões (R$ 13 milhões aplicados no prédio principal e R$ 10 milhões para o anexo, na Rua 7 de Abril), que a reforma pôde ser iniciada, em 2007.
Acervo
A Biblioteca Circulante, que tem 42 mil livros para empréstimo e consulta, já foi reinaugurada em 21 de julho; depois disso, foi visitada por mais de 83 mil usuários, que retiraram obras clássicas, como Capitães de Areia, de Jorge Amado – e recentes, como 1808, de Laurentino Gomes.
A reabertura da torre daqui a menos de um mês é ainda mais aguardada porque envolve a recuperação do principal acervo de livros da cidade, cuja história começa em 1925, quando foi criada a Biblioteca Municipal. Eram 15 mil volumes em um casarão na Rua 7 de Abril.
A reforma não apenas reorganizou o acervo e adaptou o prédio. Cerca de 250 mil exemplares passaram por desinfestação, num processo que usa nitrogênio para eliminar cupins e outros intrusos. Prevista para ser concluída no início de 2009, a obra atrasou porque, segundo a diretora, havia problemas sérios, como a ausência de um cálculo de peso.
Mas ainda há muito o que fazer. A conclusão da obra do anexo, onde ficarão os quase 3 milhões de periódicos do acervo (incluindo revistas ilustradas do século 19, principalmente francesas, e muitas publicações científicas), está prevista para julho – mas sem a passagem subterrânea que consta no projeto, e que a diretora considera fundamental para os deslocamentos operacionais de um prédio a outro.