Renato Machado
A maior parte dos motoristas pode não notar a faixa branca no meio de alguns semáforos de São Paulo. Mas essa medida que está sendo implantada pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) faz a diferença quando os condutores dos veículos são daltônicos, pessoas com problemas para diferenciar cores. E uma confusão entre o vermelho e o verde tem grandes chances de terminar em acidentes no trânsito.
As mudanças nos semáforos começaram no fim do ano passado. São ajustes simples e de baixo custo, mas que deixam os equipamentos mais visíveis para os daltônicos à noite. Apenas estão sendo trocados os anteparos pretos que ficam atrás das lâmpadas por outros mais novos e que possuem uma faixa reflexiva branca na altura da luz amarela.
Essa adaptação permite aos daltônicos saberem qual lâmpada está acesa no período noturno. Apesar de não reconhecerem as cores, esses motoristas conseguem identificar em um semáforo qual está mais brilhante por causa do contraste. A dificuldade é que no período noturno não se enxerga todo o equipamento e apenas a luz, sem um referencial se é a que está em cima (vermelha) ou embaixo (verde).
“A tarja branca reflexiva oferece uma referência para os motoristas daltônicos. Eles conseguem visualizar o brilho à noite e com a faixa identificam se está em cima ou embaixo. É uma solução simples, mas que funciona e traz mais segurança”, diz a assessora técnica da CET e responsável pelas pesquisas sobre o assunto, Kátia Moherdaui Vespucci, que tem dois filhos daltônicos (ver ao lado).
Há atualmente cerca de 300 equipamentos com a faixa reflexiva branca na cidade, em bairros como Vila Mariana, Ibirapuera, Itaim-Bibi e Jardim América. O programa elaborado pela CET prevê que todos os 17 mil semáforos “com braços” sejam adaptados – aqueles que ficam suspensos no meio da rua e não colocados em postes nas laterais. As trocas são feitas quando um equipamento necessita de manutenção ou é substituído por um novo.
São Paulo é o segundo município brasileiro a adotar essa faixa reflexiva e elaborar um programa para manter semáforos adaptados em toda a cidade. A primeira foi Campinas, que começou a experiência em 2003 e foi ampliando aos poucos a quantidade de equipamentos adaptados. Atualmente, 70% dos 445 cruzamentos semaforizados possuem o recurso para os daltônicos.
As adaptações para os daltônicos são justificadas pela frequência com que essa disfunção é registrada na população. As estimativas apontam que 10% dos homens tenham algum tipo de daltonismo, seja em menor ou maior grau. O índice é bem mais baixo em relação às mulheres (0,5%).
Essa disfunção genética provoca uma confusão na percepção das cores, sendo que a maioria têm dificuldade para perceber o verde (75%), vermelho (24%) e azul (1%). Uma das agravantes é que muitas pessoas não sabem que têm a disfunção, porque convivem naturalmente com ela ou a descobrem tardiamente.
Como na maior parte dos casos os daltônicos conseguem relacionar as cores pela textura e contraste, não há obstáculos para obter a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e muito menos foi comprovado que não estão aptos a dirigir. “Dirijo há 40 anos e nunca sofri acidente”, diz o engenheiro Airton Perez Mergulho, de 59 anos.
Uma das queixas é que os semáforos horizontais provocam confusão e que algumas luzes não estão fortes, a ponto de oferecer contraste. “Não há problemas no trânsito para nós. A sinalização é bem fácil de assimilar, porque é feita com cores fortes e desenhos próprios. Conseguimos ver pela posição das luzes e pelo contraste. Só é preciso alguns cuidados.”