Locais com obras planejadas há anos, como Pompeia, voltaram a alagar
Enquanto a prefeitura usa só parte do dinheiro em córregos e piscinões, verba publicitária bate novo recorde na gestão
JOSÉ BENEDITO DA SILVA
DE SÃO PAULO
No ano em que a prefeitura bateu recorde de arrecadação de impostos, a gestão Gilberto Kassab (DEM) investiu menos do que estava previsto no Orçamento em projetos antienchente -parte dos locais que receberiam essas intervenções voltou a alagar.
Segundo a Secretaria de Planejamento, no ano passado, as receitas de impostos cresceram 20,4%, puxadas pelo IPTU (alta de 26,2%), que colocou R$ 835 milhões a mais nos cofres da prefeitura em relação ao ano anterior.
O valor extra é quase o dobro do que Kassab gastou com intervenções antienchente (R$ 430 milhões de um total previsto de R$ 504 milhões). Projetos como canalização de córregos e construção de piscinões tiveram gastos abaixo do previsto.
Parte dos locais alagados nos últimos dias tem obras planejadas há anos, mas que continuam no papel. Em um deles, no final de dezembro, morreu a professora Michele Borges, 29, arrastada pelas águas do córrego Ponte Baixa, em M’Boi Mirim, zona sul.
Tivessem prevalecido os planos da prefeitura, o córrego já estaria canalizado. A obra é incluída no Orçamento desde 2005. Em 2010, a prefeitura previa gastar R$ 20 milhões, mas nada foi feito.
Outro local que alagou anteontem foi a praça General Oliveira Álvares, na Vila Madalena (zona oeste), onde deveria ser feito um piscinão. A prefeitura fez a licitação em 2008, contratou a empresa em 2009, mas nada foi feito.
Em uma das regiões que mais alagam, a Pompeia (zona oeste), a prefeitura nunca tirou do papel o piscinão planejado há anos. Recentemente, o projeto mudou para galerias. Sem a solução prometida, o local deixou carros ilhados no temporal.
PUBLICIDADE
Entre a noite de anteontem e ontem, ao menos seis córregos transbordaram. Investimentos nessa área, como limpeza e canalização, fecharam 2010 abaixo do previsto.
Em outras áreas, a prefeitura gastou o que previa, como em publicidade -R$ 108,9 milhões, quase o dobro de 2009 (R$ 57,8 milhões), novo recorde da gestão.
Segundo a Secretaria de Comunicação, o crescimento foi menor pois em 2009 havia R$ 33 milhões para publicidade nos orçamentos das pastas de Educação e Saúde.
Em 2010, a verba foi utilizada, segundo a prefeitura, em campanhas como as de prevenção da dengue e gripe A e na divulgação de eventos como a Virada Cultural.
OUTRO LADO
Prefeitura diz que obras estão em fase de projeto
DE SÃO PAULO
Parte das obras que não tiveram toda a verba utilizada em 2010 está em fase de projeto, de licitação ou em execução, diz a prefeitura.
Segundo o governo, a canalização do córrego Ponte Baixa é prioridade, tem custo estimado de R$ 340 milhões e está prevista no PAC 2 (Plano de Aceleração do Crescimento), do governo federal.
A secretaria diz que segue os trâmites legais para obter os recursos e que "tem investido pesadamente na urbanização" da região, já que "existe um número expressivo de habitações irregulares que dificultam as obras".
Outras obras, diz, estão em fase de projeto, como canalizações de córregos e construções de piscinões e de pontes. Já o piscinão do córrego Verde, na Vila Madalena, aguarda licença ambiental.
Estão em execução a manutenção de galerias, a construção de piscinão no córrego dos Machados e a drenagem da bacia da Aclimação.
Outro projeto citado é o Programa Mananciais, que remove famílias de áreas de risco -o Orçamento previa R$ 159 milhões, mas foram gastos R$ 416 milhões.