Órgãos públicos sabem com antecedência localização e intensidade de temporais, mas cidadão não é avisado
Para especialista, sistema deveria ser mais eficaz e orientar ações antes que a chuva causasse danos severos
EDUARDO GERAQUE
DE SÃO PAULO
Moradores voltaram a correr riscos ontem de madrugada na marginal Tietê. Apesar de os órgãos públicos terem a informação sobre a chuva com horas de antecedência, os sinais de alerta não chegaram a todos os lugares.
A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) recebe informações climáticas do CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências) para, se necessário, fazer bloqueios antecipados e evitar carros em pontos alagados. Mas não foi isso o que se viu na madrugada de ontem.
"Foi horrível, achei que ficaríamos presos na água", relembra Juliana Noveli.
Ao lado do pai, ela viu a água barrenta na marginal Tietê, "da chuva e vinda do rio", subir até o meio da porta do Fox em que estava.
"Saímos de Alphaville, pegamos a Castello Branco e entramos na marginal Tietê, pela pista local. Era por volta da meia-noite".
No meio do curto trajeto até a Anhanguera -cerca de três quilômetros- muito trânsito. A água que veio de surpresa. "Foram duas horas para percorrer este trecho".
A CET diz que, ao receber o alerta do CGE, reforçou seu efetivo na rua. "O dia amanheceu com 677 agentes". Alguns marronzinhos, entretanto, ficaram perdidos ao redor de zonas alagadas.
De acordo com Noveli, a CET havia fechado apenas a pista expressa da marginal. "Em nenhum momento os fiscais avisaram do perigo que também havia na pista local. Não tínhamos noção do volume de água que subia", afirma Noveli.
SISTEMA
O relato é igual aos de sexta-feira na avenida Aricanduva, quando dezenas de motoristas viram seus carros boiando na enchente.
"O sistema é razoável, mas é preciso investir mais", diz Rubem Porto, professor da Politécnica da USP.
Segundo o especialista, se há um bom sistema de informações e alertas, "é possível, com horas de antecedência, acionar a Defesa Civil e a CET, para orientar tráfego e remoção, de tal forma que um evento como o de ontem [anteontem] não tenha tanto impacto como teve", diz.
O Estado anunciou que está licitando um novo sistema "para ter mais precisão sobre locais e horários de chuva", um investimento de cerca de R$ 7 milhões.
Tanto o prefeito Gilberto Kassab (DEM), quanto o governador Geraldo Alckmin (PSDB), disseram que os sistemas de alerta funcionaram.