“Plano para rios Tietê e Pinheiros não resolve enchentes, dizem especialistas” – R7

 

Governo anunciou R$ 800 milhões em obras emergenciais para conter alagamentos
João Varella e Fernando Gazzaneo, do R7

Os R$ 800 milhões que serão investidos para prevenir enchentes em São Paulo ajudarão, mas não serão suficientes para resolver o problema, segundo especialistas ouvidos pelo R7. A liberação do montante foi anunciada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) na tarde da terça-feira (11), após reunião com seu secretariado. Desde segunda-feira (10), as chuvas mataram ao menos 12 pessoas.

Para os especialistas ouvidos pela reportagem, o desassoreamento dos rios Tietê e Pinheiros, principal medida anunciada pelo governador, deveria ser prática constante e o plano de baixar custos das ações não deve se concretizar.

Na terça-feira, Alckmin disse que o desassoreamento pode custar metade do preço normalmente praticado, pois a licitação vai prever que a empresa deixe os detritos em local próximo, o que desoneraria o transporte, e o reaproveitamento da areia.

A urbanista Lucila Lacreta, da organização não governamental Defenda São Paulo, diz ter dúvidas quanto a reutilização da areia, já que o material é contaminado. Lacreta afirma também que haverá dificuldade para o governo encontrar locais próximos para deixar o lodo recolhido.

A velocidade da retirada dos sedimentos também é alvo de críticas dos especialistas. O consultor de engenharia hidráulica e ex-professor da escola politécnica da USP (Universidade de São Paulo) Júlio Cerqueira Cesar Neto defende que deveriam ser retirados de 3 a 4 milhões de metros cúbicos de resíduos por ano do rio Tietê. Segundo Cerqueira, o rio ganha a 1 milhão de metros cúbicos de resíduos por ano. Alckmin anunciou a remoção de 2,5 milhões de metros cúbicos até o final de 2011, mas não informou como será a rotina de retirada dos sedimentos.

Para Kasuo Nakano, urbanista do Instituto Pólis, a retirada de sedimentos dos rios Tietê e Pinheiros pode perder o efeito, a curto a prazo, se não for combinada com outras medidas. Isso porque o material acumulado no fundo e nas margens desses rios vem também de um conjunto de afluentes que desembocam nos dois.

– É preciso criar mecanismos para conter o volume de água de outros rios e córregos que desembocam no Pinheiros e no Tietê. O rio Aricanduva e o córrego Tiquatira desembocam no Tietê, por exemplo.

Um estudo apurado da administração pública, comenta Nakano, deveria pensar em áreas permeáveis e espaços como piscinões para conter o volume de águas antes de chegarem nas marginais Tietê e Pinheiros. Contudo, na opinião do urbanista, o modelo atual desses reservatórios deveria ser modificado.

– Os piscinões hoje viraram espaço para acúmulo de lixo. Essas estruturas poderiam ser subterrâneas, como acontece no bairro do Pacaembu [zona oeste de São Paulo].

Outros fatores são determinantes para agravar a situação dos transbordamentos. Kazuo relembra que o projeto das marginal Tietê na década de 30 contava com uma área verde entre as margens do rio e a estrada. Se ela existisse, pontua o especialista, ajudariam na absorção da água da chuva na região. Outro problema apontado pelo especialista é o esquema de coleta de esgoto.

– Só 30% do esgoto da cidade é tratado. O resto desemboca nos rios. Isso também é determinante para controlar as cheias no Tietê e no Pinheiros.

Lacreta aponta que São Paulo tem uma grande oportunidade de repensar o uso e ocupação do solo com o Plano Diretor, que deve ser revisado em 2012.

– O plano de drenagem tem que ser feito junto de um plano de uso e ocupação do solo. Com o Plano Diretor, nós temos a oportunidade de rediscutir os destinos da cidade. Não há panaceia, é preciso repensar o planejamento da cidade.

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