Vítimas de tragédias no passado, municípios em SP, RJ, AL e PE priorizam remoção de casas em área ilegal
Trabalho em parceria com Defesa Civil aponta onde se deve construir; reconstrução leva até dez anos, diz consultor
ELIDA OLIVEIRA
DE SÃO PAULO
Cidades que passaram por inundações ou deslizamentos no ano passado, como São Luiz do Paraitinga (SP) e Niterói (RJ), viram na tragédia uma oportunidade de corrigir as falhas que causaram mortes e destruição.
Nas duas cidades, assim como em Branquinha (69 km de Maceió) e Palmares (123 km de Recife), obras de reconstrução feitas pelo poder público estão tirando as pessoas de locais irregulares.
A Defesa Civil aponta onde pode reconstruir -e quais áreas não são edificáveis.
Assim, a população que vivia em casebres de madeira ou barro está mudando para casas de alvenaria em locais com calçamento, iluminação e saneamento básico. Antes, a ocupação era irregular.
Com exceção de São Luiz do Paraitinga (182 km de São Paulo), onde todo o centro histórico está em área alagável, nas demais cidades nada está sendo reconstruído nas áreas sujeitas a inundação ou desmoronamentos.
O geólogo Renato Eugênio de Lima, consultor da ONU (Organização das Nações Unidas) para grandes desastres, diz que os municípios devem levar até dez anos para atingir patamar melhor que o anterior à tragédia.
Segundo ele, os primeiros seis meses são para recuperação imediata e, em cinco anos, a cidade chega ao estágio em que estava antes da destruição.
CANTEIRO DE OBRAS
Em Branquinha, há "um vazio enorme" na área inundada, diz Luiz Otavio Gomes, secretário de Desenvolvimento do Estado e coordenador da reconstrução.
Isso porque a cidade está renascendo no alto do morro -a 10 km do leito do rio. Enquanto as 960 casas não ficam prontas, a população vive em barracas sob o sol.
"As pessoas sairão de locais condenados e irão para conjuntos habitacionais estruturados", diz Geraldo Júlio de Mello, secretário de Planejamento e Gestão de Pernambuco.
De acordo com Gomes, de Alagoas, os recursos emergenciais ajudam as cidades a se refazer.
"Sem isso seria impossível tirar as pessoas das áreas de risco", afirma.
A previsão é que todas as obras sejam entregues até dezembro deste ano.
Em Niterói, o calendário é mais extenso -fim de 2012. A prefeitura já realizou obras de contenção em cerca de 15 morros, mas 26 têm projetos em andamento ou análise.
Novas habitações serão construídas em oito bairros, segundo o prefeito Jorge Roberto Silveira (PDT).
PRESERVAÇÃO
São Luiz do Paraitinga tenta conciliar a preservação do casario histórico com a reconstrução da cidade.
A tragédia acelerou o tombamento da cidade, declarada patrimônio histórico nacional pelo Iphan (órgão federal responsável pela área).
Conhecida pelas marchinhas e bonecos, São Luiz já se prepara para receber os turistas no Carnaval.