BRUNO RIBEIRO
Pela terceira vez consecutiva, a Câmara Municipal foi “eleita” a instituição menos confiável da cidade de São Paulo. A Casa, composta por 55 vereadores, ficou em último lugar em um ranking das instituições em que o paulistano mais confia. A lista foi apontada por pesquisa feita pelo Ibope, encomendada pela Rede Nossa São Paulo.
É o terceiro ano da pesquisa Indicadores de Referência do Bem-Estar do Município (Irbem), que ouviu 1.512 moradores da cidade entre 29 de novembro e 12 de dezembro de 2010. A listagem trouxe 24 entidades, entre agentes do poder público e empresas prestadoras de serviço. Em primeiro lugar, também pelo terceiro ano seguido, está o Corpo de Bombeiros – confiável para 94% dos entrevistados. Entre as mais confiáveis, figuram Correios, Metrô, Sabesp e Eletropaulo. Entre as menos confiáveis, Tribunal de Contas, Prefeitura, Subprefeituras e Ministério Público.
O coordenador da pesquisa, Oded Grajew, da Rede Nossa São Paulo, diz que a listagem buscou uma avaliação de instituições que têm ligação com a vida do paulistano – sejam órgãos do poder público ou empresas privatizadas – “independentemente de toda a população usar ou não”.
Mas a Câmara melhorou em relação a 2009. Em 2010, 36% disseram confiar nela. Em 2009, eram 24%.
O presidente da Câmara, vereador José Police Neto (PSDB), do grupo do prefeito Gilberto Kassab (DEM), ressalta a melhora na avaliação. “Crescemos quase 50%”. Os motivos, diz ele, são a aprovação de projetos – como o IPTU progressivo (que permite desapropriações de imóveis vazios) – e o resultado de CPIs, como a das enchentes, cujo relatório foi encaminhado ao Ministério Público.
Já o PT atribuiu o resultado a dois fatores. Primeiro, “a população não sabe exatamente o que a Câmara faz”, disse o vereador José Américo, líder da bancada - a Câmara não pode propor projetos que obriguem a Prefeitura a ter novos gastos. O segundo engloba críticas ao prefeito. “A Câmara não recebeu projetos de grande vulto do Executivo para aprovação.”
O cientista político Claudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas, diz que a má avaliação do Legislativo não é particularidade do paulistano. “Pesquisas nacionais e de outros países têm resultado parecido.” Para ele, a atividade parlamentar é pouco acompanhada e que o que a mídia mais divulga sobre o Legislativo são os escândalos. E a população, em geral, não confia nos políticos.
BOMBEIROS
Sem cargos eletivos e procurados apenas nas situações de emergência, o Corpo de Bombeiros conseguiu, mais uma vez, ser classificado como a instituição mais confiável da cidade. O índice de 94% ficou estável em relação à pesquisa de 2009 e é um ponto porcentual maior do que o obtido no primeiro ano da listagem, 2008. Os bombeiros não responderam solicitação de entrevista para comentar a pesquisa.
A reportagem também quis ouvir as entidades má avaliadas. Nem Tribunal de Contas do Município (TCM), Prefeitura ou Ministério Público Estadual responderam.
Couto diz que a baixa avaliação do Ministério Público Estadual está ligada, em parte, à falta de conhecimento da população das atividades do MP. “Ele está quase empatada com o Poder Judiciário, que também é visto com certa desconfiança.”