Uma das principais promessas de Gilberto Kassab, a eliminação do terceiro turno, como também é conhecido o horário das 11 às 15 horas, deveria ter ocorrido em 2008. A secretaria diz que conseguiu limitar o número de escolas com o turno para 7% da rede
Mariana Mandelli – O Estado de S.Paulo
Fim de 2012. É o novo prazo que a Prefeitura de São Paulo determinou para acabar com o turno da fome nas escolas municipais. Uma das principais promessas de campanha do prefeito Gilberto Kassab (DEM), o fim do terceiro turno – como também é conhecido o período das 11 às 15 horas em que crianças do ensino fundamental estudam – deveria ter ocorrido em 2008.
O turno da fome, que tem uma hora a menos de aula, foi criado há cerca de 30 anos como forma de atender a toda a demanda. Segundo a Secretaria Municipal de Educação, 39 escolas devem começar este ano letivo funcionando em três turnos – um total de 16.409 alunos vai estudar durante o terceiro turno.
Em janeiro do ano passado, reportagem do Estado mostrou que a solução do turno da fome ficaria para este ano, segundo afirmação da própria pasta. Na época, foi anunciado que 47 escolas teriam o turno da fome em 2010 – o que significa que, do ano passado para este, a secretaria tirou o período de 8 escolas.
"Para resolver um problema histórico e arraigado, como é o caso das escolas de três turnos, é preciso estabelecer metas ousadas e foi isso que fizemos", justifica o secretário de Educação, Alexandre Schneider. "Acabar com o terceiro turno continua sendo uma de nossas prioridades e nós vamos trabalhar até o último dia da gestão para acabar de vez com esse problema."
Segundo a pasta, até 2005, o número de escolas de ensino fundamental com o turno da fome só aumentou, atingindo 70% da rede. Atualmente, as 39 escolas que ainda têm o turno representam 7% do total.
Em nota, a secretaria afirmou que "construiu novas escolas, ampliou unidades existentes, reestruturou a carreira dos professores e alterou a grade curricular", com o objetivo de oferecer a todos os alunos cinco horas de aula diárias. A secretaria ainda afirma que, de 50 escolas previstas para serem construídas, 8 foram entregues. As outras estão em fases diversas, que vão desde a desapropriação do terreno até a etapa de obras. A pasta ressalta a dificuldade em encontrar terrenos adequados.
Cotidiano
Educadores criticam a continuidade do turno da fome na rede municipal. Para Silvia Colello, da Faculdade de Educação da USP, a situação está longe de ser a ideal. "É uma situação provisória que permanece. Dessa forma, não se respeita o ritmo biológico da criança", afirma. "Não é só a questão da alimentação, já que esse é o horário do almoço, mas de motivação."
Priscila Cruz, diretora executiva do Movimento Todos Pela Educação, ressalta que o turno da fome oferece menos tempo de aula. "Quanto mais exposição à aprendizagem, melhor para a criança", diz. "Isso tem de acabar urgentemente."
Alunos que já estudaram no turno da fome se sentem prejudicados. "Eu perdia a manhã e a tarde", conta Regina Andrade, de 15 anos. Ela estudou durante seis anos nesse período, numa escola municipal do bairro do Jaraguá, zona norte de São Paulo.
"Eu gosto de estudar de manhã. Não suportava esse horário", lembra o irmão dela, Willian Andrade, de 10 anos.