“Mesmo com obras antienchente da Prefeitura, 5 córregos transbordam” – O Estado de S.Paulo

 

Gestão Kassab havia garantido ao Ministério Público que intervenções de R$ 78 milhões resolveriam falhas de drenagem nesses locais

Nataly Costa e Renato Machado – O Estado de S.Paulo

As obras feitas pela Prefeitura de São Paulo nos córregos não foram suficientes para conter os transbordamentos deste verão. Dos oito córregos e rios que transbordaram desde novembro, cinco tiveram intervenções dadas como "concluídas" pelo poder público – que garantiu que elas seriam suficientes para pôr fim aos problemas de drenagem.   

A reportagem do Estado cruzou as informações de todas as obras de drenagem e canalização da Prefeitura com a quantidade de transbordamentos registrados pelo Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE). A lista com as intervenções feitas de 2005 a 2010 foi encaminhada pela Prefeitura ao Ministério Público Estadual, que instaurou um inquérito para apurar as causas das enchentes.

O documento garante que, das intervenções elencadas, "as que puderam ser concluídas resolveram definitivamente o problema de drenagem". Também afirma que foi possível eliminar 80 pontos críticos de alagamentos até o presente momento. Até o fim da gestão Gilberto Kassab (DEM), em 2012, seriam 170. A Prefeitura não informou quais foram os pontos solucionados.

Transbordaram, de novembro até agora, os Córregos Ipiranga, Mooca, Morro do S, Jaguaré, Cabuçu de Baixo no Guaraú, Limoeiro e Limão e o Rio Aricanduva. Desses, apenas os três últimos não tiveram obras de drenagem ou canalização concluídas. Os demais receberam, nos últimos cinco anos, investimentos de R$ 78,3 milhões. Os Rios Tietê e Pinheiros também transbordaram, mas a responsabilidade por eles é do governo do Estado.

O Córrego Morro do S, em M"Boi Mirim, na zona sul, foi o campeão de transbordamentos na atual temporada. Foram três vezes apenas em janeiro: nos dias 5, 9 e 10. A última vez foi na madrugada da maior chuva do ano até agora (do dia 10 para o dia 11), com 125 pontos de alagamento.

Já o Córrego da Mooca extravasou duas vezes fora dessa noite: nos dias 30 de novembro e 13 de janeiro.

Além das obras em córregos, a Prefeitura elenca no relatório enviado ao MPE intervenções em galerias pluviais de locais como Pompeia, Lapa e Mooca. Os trabalhos na Galeria da Rua Prates, no Bom Retiro, por exemplo, não foram suficientes para conter alagamentos no bairro, mesmo em vias perto dali.

"Alagamentos acontecem onde o sistema de drenagem não tem como conduzir a vazão. É preciso ampliar as galerias e não somente recuperá-las. Assim, os problemas não vão acabar", alerta o engenheiro hidráulico do Instituto de Engenharia Júlio Cerqueira Cesar Neto. "Optou-se pela construção de piscinões e se esqueceu de investir para melhorar a rede de galerias."

 

Para Prefeitura, solução só virá com obras na bacia toda

O Estado de S.Paulo

A Prefeitura reafirma que as obras resolveram os problemas de drenagem. O município, no entanto, faz a ressalva de que algumas fazem parte de um conjunto maior de intervenções em determinada bacia hidrográfica, cujos problemas só serão resolvidos com a conclusão de todas.

"Os cinco córregos referidos tiveram as obras concluídas e não sofreram alagamentos nas áreas de abrangência das intervenções. No entanto, fazem parte de bacias hidrográficas de considerável extensão, que exigem número expressivo de obras."

Um dos rios que transbordou, mas que ainda passa por obras é o Aricanduva. A gestão Kassab diz que iniciou uma série de obras em 2007, com investimentos de R$ 132 milhões, para canalizar, alargar e aprofundar a calha. Também foram construídos três reservatórios. A Prefeitura afirma que retira por dia das ruas 1,9 mil toneladas de entulho que podem parar nos córregos.

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