RICARDO YOUNG
Se a confiança é o resultado de relações de qualidade, a relação dos paulistanos com a sua cidade vai muito mal.
Em recente pesquisa, já em sua terceira edição, promovida pelo Ibope Inteligência e pelo Movimento Nossa São Paulo sobre os indicadores de referência de bem-estar no município (Irbem), o quesito transparência e honestidade dos governantes e instituições recebeu a pior avaliação.
Quando a população foi perguntada sobre que instituições estariam contribuindo para a melhora de suas vidas, menos de 2% atribuiu à Câmara Municipal, prefeito, conselhos municipais ou partidos políticos qualquer responsabilidade sobre qualquer melhoria. Um descalabro. Ainda mais se contrastado com os 21% atribuídos ao governo federal ou aos 12% atribuído às igrejas.
Em outras palavras, se algum governo contribuiu para a melhoria das condições de vida da população, ele foi o mais distante possível: no planalto central, invertendo completamente a lógica de que é no município que a vida real acontece.
No outro extremo, são nas famílias, nos amigos, na espiritualidade, na carreira profissional, no lazer e entretenimento e no meio ambiente, entre outros, que os paulistanos encontram satisfação.
Há portanto um abismo entre aquilo que a população de São Paulo considera fatores de bem-estar e qualidade de vida e aquilo que seus sucessivos governantes entendem ser desenvolvimento.
Houve, é verdade, um ligeiro avanço em relação a 2009 (4,8 para 5,0 em uma escala de 1 a 10), mas é evidente que há um divórcio entre a população e sua cidade.Tanto é que mais de 51% dos moradores declararam que sairiam de São Paulo se pudessem.
Seria fácil atribuir essa situação aos equívocos ou incompetência dos governos.
Mais difícil é entender que o que a população entende por qualidade de vida e a forma de garanti-la está longe das cartilhas mais rudimentares que orientaram até agora os programas de governo.
Podemos dizer, no mínimo, que a forma tradicional de gestão das grandes cidades caducou de vez. Mas há esperança. Iniciativas como o Irbem apresentam aos municípios a fina flor do que um governo, em sintonia com a sustentabilidade e a qualidade de vida de sua população, pode fazer.
Na pesquisa citada, encontramos um minucioso roteiro por meio do qual administradores e seus munícipes poderiam estabelecer uma nova relação de qualidade, centrada em indicadores que realmente importam.
Com a confiança entre população e suas instituições restabelecida, em vez da barbárie, as megacidades poderiam ser a expressão mais acabada do que cremos que a civilização do século 21 pode ser.
RICARDO YOUNG escreve às segundas-feiras nesta coluna.