“Presidente do Instituto Ethos comenta lançamento da pesquisa IRBEM” – Instituto Ethos

 

Uma importante ação para transitarmos para uma sociedade sustentável é desenvolvermos ferramentas para medir e controlar os reais avanços alcançados. Há muito o produto interno bruto (PIB) e depois o índice de desenvolvimento humano (IDH) deixaram de cumprir totalmente com o objetivo de detectar os avanços e progressos. Claro que eles ainda cumprem um papel importante, mas não são capazes de integrar outras dimensões que reflitam os verdadeiros anseios de uma sociedade.

São Paulo já tem os indicadores da cidade que mostram a realidade de todas as subprefeituras, o que permite identificar a situação de cada área e se promessas políticas foram efetivamente cumpridas.

Outra importante ferramenta são os Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município (Irbem), experiência inédita no mundo, que nos permite conhecer a percepção dos paulistanos para a qualidade de vida da cidade. A pesquisa trabalha com indicadores que refletem de maneira bastante ampla a percepção das pessoas para o que é qualidade de vida. O processo de construção dos indicadores com a participação efetiva da população elegendo os pontos que consideram mais importantes é sem dúvida, uma de suas grandes virtudes.

Essas informações valiosas servem de orientação para ações de governos, empresas e organizações da sociedade civil. Mas o problema é se apropriar dessas informações e colocá-las em prática. É preciso que esses dados sensibilizem os principais atores capazes de implementar movimentos transformadores, mas que nem sempre estão abertos a mudanças. A cultura usual de tomada de decisões é pessoal ou de pequenos grupos, o que, em geral, não atende as necessidades da sociedade como um todo.

Houve melhora, mas com índices abaixo da média

São Paulo ainda é uma cidade que oferece uma baixa qualidade de vida, mas ao mesmo tempo dá sinais de melhorar lentamente, segundo a percepção de seus habitantes. Isso é o que mostrou a pesquisa do Irbem 2010, divulgada nesta quinta-feira (20/1) pela Rede Nossa São Paulo. Foram analisadas 25 áreas e avaliados 169 itens que indicam o nível de satisfação da população com os temas e aspectos citados como os mais importantes para a qualidade de vida e o bem-estar na cidade.

Embora tenha havido uma pequena melhora em relação à pesquisa de 2009, é importante destacar que a maior parte dos itens avaliados (73%) está abaixo da média de 5,5 pontos, numa escala que vai de 1 a 10. Ou seja, para a população de São Paulo, sua qualidade de vida ainda está longe de ser satisfatória.

Segundo a enquete, que tem uma margem de erro de três pontos percentuais para cima e para baixo, a qualidade de vida em 2010 melhorou levemente para 34% dos entrevistados e de forma significativa para 13%. Para 6%, ela piorou ligeiramente, 3% afirmam que piorou muito e 44% consideram que as condições de vida na cidade permanecem estáveis.

A pesquisa apontou que 51% dos habitantes de São Paulo deixariam a cidade se tivessem oportunidade. Já 48% não querem sair da capital, enquanto 1% não responderam. Os dados registraram uma ligeira melhora em comparação à pesquisa de 2009, quando 57% dos entrevistados gostariam de deixar a cidade.

Dos diversos itens abordados na pesquisa, que vão das relações afetivas até as questões de segurança, transporte, saúde, habitação, consumo, meio ambiente e trabalho, passando pela utilização dos serviços públicos, os que mereceram as melhores notas de satisfação foram aqueles que podemos chamar de pessoais, por envolver a relação com a família e amigos, a espiritualidade e a carreira profissional.

Por exemplo, nos itens referentes a trabalho, estão acima da média a “perspectiva de futuro, crescimento e carreira” (que passou de 6,5 em 2009 para 6,7 em 2010), as “condições de trabalho” (que manteve o índice de 6,3) e as “oportunidades de formação profissional” (que foram de 5,7 para 5,8). Um bom sinal para as nossas empresas na relação com seus profissionais. Ainda na área do trabalho, uma pequena oscilação para baixo pode ser observada no item “equilíbrio entre trabalho e vida pessoal”, que caiu de 6,4 para 6,3, em relação à pesquisa de 2009.

Em relação aos itens ligados ao consumo, a pesquisa constatou que está havendo uma progressiva conscientização das pessoas, comparando-se aos resultados da pesquisa realizada em 2009. No item “incentivo ao consumo moderado e sustentável”, a satisfação média passou de 5,1 para 5,5; na “durabilidade cultural e material dos produtos”, de 5,1 para 5,4; no “respeito ao direito do consumidor”, de 5,0 para 5,3; e na “informação disponível sobre o impacto ambiental dos produtos e empresas”, de 4,9 para 5,3. Embora ainda estejam abaixo da média de 5,5 pontos estabelecida pela pesquisa, esses itens em crescimento devem ser observados com bastante atenção. A contribuição das empresas para que essas médias de satisfação possam crescer com maior rapidez nos próximos anos será decisiva. As empresas só têm a ganhar aumentando a transparência e a qualidade das informações e fabricando produtos com maior durabilidade e eficiência e menor impacto ambiental. Os consumidores, como demonstra a pesquisa, tenderão a dar respostas positivas a essas ações.

O paulistano também está mais consciente em relação a “sua responsabilidade ambiental” (a média passou de 6,2 para 6,5) e sua percepção é de que a cidade está melhor no quesito ambiental, como na “coleta seletiva” (de 5,3 para 5,9) e na “revitalização e conservação de parques, praças e várzeas existentes (de 4,8 para 5,1). Houve melhora, mas insuficiente para atingir um grau satisfatório na “qualidade do ar” (de 3,7 para 4,0), na “despoluição e preservação de rios, lagos e represas” (de 3,7 para 3,9) e num item que registrou evolução, mas com certeza teria um resultado diferente se a pesquisa tivesse sido realizada nos últimos dias: a “manutenção de bueiros e galerias e controle de enchentes”, que passou de 4,0 para 4,4. Como o levantamento ocorreu no final do ano passado, antes das enchentes deste ano, o resultado tem explicação.

Os níveis mais baixos de satisfação, como já havia sido observado na pesquisa anterior, estão nos itens relativos à transparência e honestidade dos governantes e das instituições. Apesar de uma ligeira melhora em relação à pesquisa anterior, Ministério Público, Subprefeituras, Prefeitura de São Paulo, Tribunal de Contas e Câmara Municipal seguem avaliados como não confiáveis por metade ou mais dos paulistanos.

Por fim, o tema “Transparência e Participação Política” traz outros resultados preocupantes, pois revela desconhecimento ou até mesmo desinteresse das pessoas em participar dos assuntos ligados à vida pública e à democracia participativa: a satisfação média com a “forma de participação na escolha dos subprefeitos” foi de 3,4 para 3,6; com a “participação popular em conselhos das subprefeituras”, de 3,3 para 3,5; e com o “acompanhamento das ações dos políticos eleitos”, de 2,8 para 3,1. Alguns desses aspectos podem estar ligados a um grande ceticismo em relação ao comportamento das nossas autoridades públicas, que recebeu baixíssimas avaliações: a “transparência dos gastos e investimentos públicos” foi de 2,7 para 3,0; a “punição à corrupção”, de 2,6 para 3,0; e a “honestidade dos governantes”, de 2,3 para 2,7.

Em lugar de susto ou perplexidade, os resultados dessa pesquisa devem nos levar a mirar o futuro, debruçando-nos sobre os números e nos espelhando nos objetivos do próprio Irbem, que são os de promover o conhecimento sobre os fatores mais importantes para o bem-estar das pessoas e dar oportunidade para que os gestores públicos, as empresas e a sociedade civil orientem suas ações para melhorar a qualidade de vida da população.

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