Pelo projeto haverá vias expressas e dois corredores paralelos à marginal Tietê
Também está previsto eliminar cruzamentos e retirar semáforos; ideia, reedição de plano dos anos 70, é criticada
JOSÉ BENEDITO DA SILVA
DE SÃO PAULO
Vias expressas em formato de anéis ou de eixos viários que cortam São Paulo, além de dois corredores paralelos à marginal Tietê, são as apostas do prefeito Gilberto Kassab (DEM) para reduzir congestionamentos e, com isso, melhorar a qualidade do ar.
O plano, sintetizado pela CET, foi entregue ao governo de SP como parte de um trabalho coordenado por órgãos estaduais e municipais para discutir mudanças na forma de monitorar a poluição atmosférica.
A ideia -uma reedição atualizada do Plano de Vias Expressas, tocado pelo então prefeito Figueiredo Ferraz nos anos 1970- é duramente criticada por especialistas.
O principal ponto do projeto, que não prevê datas nem custos, é a consolidação de cinco anéis viários, formados por vias já existentes ou em projeto, que teriam gargalos e barreiras eliminados, além de um padrão (de pavimento, sinalização e fiscalização).
O maior deles é o Rodoanel, que tem dois dos seus quatro trechos prontos e dois em fase de aprovação da licença ambiental. O menor é o anel do centro histórico.
Para tornar a via rápida, há previsão de eliminar cruzamentos (por meio de pontes, viadutos, passagens subterrâneas e outras intervenções), retirar ou reprogramar semáforos, criar faixas de tráfego e até proibir parar em parte dessas vias.
O plano também prevê dois eixos de circulação rápida. Um deles, norte-sul, iria da rodovia Fernão Dias até o trecho sul do Rodoanel, passando por avenidas como Interlagos e 23 de Maio. O outro iria da Régis Bittencourt, a oeste, até o futuro trecho leste do Rodoanel, passando pela avenida Jacu-Pêssego.
CORREDORES
Também integram o plano a consolidação de dois corredores paralelos à marginal Tietê. Um deles ao norte, que iria da Anhanguera até a Vila Maria, próximo à via Dutra. O outro, ao sul, seria uma extensão da av. Marquês de São Vicente até a av. Aricanduva.
O objetivo principal, diz a CET, é reduzir os congestionamentos dos atuais 140 km, em média, para 90 km -a lentidão no trânsito provoca uma maior emissão de poluentes na atmosfera.
Segundo a prefeitura, parte das intervenções para os anéis e eixos viários está em fase de estudo ambiental, como os túneis da avenida Sena Madureira e da avenida Jornalista Roberto Marinho.
Outras, como a criação de uma passagem subterrânea na rua Ribeiro de Lima (sob a avenida Tiradentes) e do Apoio Sul (via paralela à marginal Tietê), estão em fase de elaboração de projeto.
É A MESMA IDEIA DE JERICO, DIZ ESPECIALISTA
Engenheiro diz que só investimentos em transporte público vão reduzir a circulação de automóveis e a poluição
Presidente da ANTP diz que plano não encara o problema de frente; ônibus também vai ganhar, diz prefeitura
DE SÃO PAULO
Para especialistas, priorizar projetos para a circulação de carros vai na contramão do que a cidade precisa.
"O problema é fazer as pessoas andarem mais rápido, não os carros", diz Ailton Brasiliense, presidente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos) e ex-diretor da CET na gestão de Luiza Erundina (1989-92). Para ele, a prioridade deve ser o transporte coletivo.
Horácio Augusto Figueira, mestre em transportes pela USP, concorda. Ele diz que a ideia é muito parecida com o Plano de Vias Expressas dos anos 1970, mas num contexto bem menos justificável.
"É a mesma ideia de jerico. Falar em vias expressas na situação em que o planeta vive, numa cidade como SP, é assinar atestado de óbito."
O melhor, diz, é investir mais em corredor de ônibus. Brasiliense diz que o mais complicado é que "não se encara o problema central de frente". "Nós ficamos o tempo todo construindo sistema para automóvel, vide as dez faixas da marginal Tietê."
Melhorar a circulação de carros, diz Brasiliense, só colocará mais carros nas ruas.
A prefeitura afirma que a melhoria da circulação dos carros por meio dos anéis e eixos viários vai ajudar a liberar as vias radiais estruturais para os ônibus. Diz, ainda, que as vias expressas também poderão receber corredores de ônibus.
PRESTES MAIA
A ideia de estruturar a circulação em avenidas de tráfego rápido remonta aos anos 1930, quando fábricas como a Ford e a General Motors se instalaram no país.
Foi nessa década que Prestes Maia (prefeito de 1938 a 1945) implantou o Plano de Avenidas, que resultou em vias como Nove de Julho, Duque de Caxias e São Luís.
Em 1971, foi posto em prática um sistema de circulação em grelha, interligando anéis viários e rodovias- parecido com a ideia atual.