“Simples e barato, mas não se faz” – O Estado de S.Paulo

 

Embora uma melhoria considerável do trânsito da capital paulista dependa de obras que demandam tempo e grandes investimentos – a ampliação do Metrô, para levar os proprietários de automóvel a optar por esse meio de transporte coletivo, e o aumento da malha viária são dois exemplos disso -, muito pode ser feito a curto prazo para aliviá-lo, e a custo relativamente baixo. Qualquer pessoa medianamente informada – não é preciso ser especialista – sabe disso. Menos o poder público, que faz de conta que não vê o que todo mundo vê.

Um exemplo é o sistema de semáforos da cidade, cuja precariedade ficou mais uma vez evidente como consequência das fortes chuvas que castigaram São Paulo nos últimos dias. Elas afetaram cerca de 600 semáforos, que pararam de funcionar ou ficaram apenas com o amarelo piscando, em sinal de alerta aos motoristas, com sérios prejuízos para a fluidez do trânsito em boa parte da capital. Desses, 200 ainda estavam naquela situação na quarta-feira, cinco dias depois de sofrerem avarias, como mostrou reportagem do Jornal da Tarde, numa demonstração de que o serviço de reparos da CET está longe de ter a eficiência que ela proclama.

O problema afetou vias importantes, como as Avenidas do Estado e Marquês de São Vicente. Na primeira, um semáforo apagado no sentido de Santana, sob o Viaduto Roberto de Abreu Sodré, provocou congestionamento de três quilômetros. Outro local seriamente afetado foi o Largo da Concórdia, onde sete semáforos ficaram avariados.

A CET pode alegar em sua defesa que a extensão das avarias no sistema de semáforos se deveu à intensidade das chuvas e dos raios que caíram nos últimos dias. Versão confirmada pelo professor José Bento Ferreira, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), especialista em engenharia de trânsito, segundo o qual "a água pode dar curto-circuito (nos semáforos) e os raios, queimá-los". Mas ele faz a ressalva de que isso não deveria ter acontecido, pelo menos com tantos semáforos, porque eles deveriam ter um sistema de proteção para minimizar as panes. "Nossa infraestrutura tem uma inacreditável vulnerabilidade a elementos naturais", diz ele.

Mas ela não é vulnerável apenas a "elementos naturais", como chuvas e raios. Ela é vulnerável também ao simples passar do tempo, ao desgaste natural, porque sua manutenção deixa muito a desejar. A própria Prefeitura, na atual administração, reconheceu isso ao lançar em 2007 o Programa de Revitalização Semafórica, que até agora, infelizmente, não produziu os resultados esperados.

Um bom exemplo disso é a rede de semáforos inteligentes, que têm capacidade de programar o tempo dos sinais verde e vermelho de acordo com o volume de tráfego nos cruzamentos. As informações fornecidas por sensores instalados no asfalto, que captam o fluxo de veículos, são enviadas a computadores que calculam o melhor tempo para abrir os semáforos. Uma grande parte dos semáforos dessa rede, que começou a ser instalada em 1994 e hoje conta com mais de 1.200 aparelhos, não funciona por falta de manutenção adequada.

A isso vem se somar a falta de fiscalização eficiente sobre empreiteiras e concessionárias que, ao realizarem obras nas ruas sem os devidos cuidados, destroem ou danificam os sensores e não fazem em seguida os reparos necessários. Calcula-se que, mesmo não tendo a dimensão que a cidade exige, o sistema de radares inteligentes, se funcionasse bem e plenamente, reduziria os congestionamentos em 25%. Algo nada desprezível.

A Prefeitura não pode alegar falta de recursos para a ampliação e a manutenção dessa rede, de custo relativamente barato, se se levar em conta os benefícios que isto traria para a cidade. Afinal, dinheiro não falta quando se trata de aumentar continuamente o número de radares e lombadas eletrônicas, hoje responsáveis por cerca de metade das multas de trânsito.

Esse aparato que alimenta a "indústria da multa" tem boa manutenção, ao contrário dos semáforos – mais de 80% dos radares estão sempre em bom estado.

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