A semana que passou foi marcada pelo final do Fórum Econômico, em Davos, e o início do Fórum Social Mundial, em Senegal. No fim de março, ocorrerá uma nova versão dos fóruns mundiais, em Manaus, em uma iniciativa tropical semelhante ao Fórum Mundial da Sustentabilidade de Lille.
Além disso, outras entidades promovem os seus, como o Fórum Mundial de Ciência e Democracia, da Fundação Charles Léopold Mayer, que ocorre esses dias também em Dacar.
Milhares de pessoas, voos e deslocamentos que fazem tão bem às economias dessas localidades trazem, em igual proporção, dúvidas sobre a efetividade dessas iniciativas.
Não, não é nem a qualidade nem a boa vontade dos organizadores que dão a sensação de ineficácia. O G-20 também padece da mesma incapacidade de resolver os dramáticos problemas mundiais. A tal interdependência global se resumiria a "cada um por si, de olho nos outros", como escreveu o jornalista Sérgio Léo?
Apesar desses encontros de mentes brilhantes, parece haver uma "pane geral" nos sistemas político e econômico mundial. Não há uma teoria geral que substitua duas premissas que orientaram o desenvolvimento por décadas: de que o crescimento econômico está na raiz da solução dos problemas sociais e que a democracia é o sistema político que acolhe melhor os princípios do livre mercado.
Os sinais parecem invertidos, como tão bem ilustram os Estados Unidos e a China.
Há outro desafio. Crescimento econômico apenas torna-se uma ameaça para o planeta, e o consumo não é motor do bem-estar. Está provado cientificamente que renda e felicidade não andam juntos a partir de um certo nível.
Outros indicadores parecem responder melhor às variáveis que constituiriam os elementos do bem-estar. Assim, novas teorias econômicas e políticas precisam incorporar complexas variáveis para dar conta do desafio.
Nesse sentido, é redentor o ensaio do economista André Lara Rezende "Desigualdade e bem-estar".
Ao discutir o livro "The Spirit Level" (Richard Wilkinson e Kate Pickett), ele aborda de forma original os limites do crescimento econômico, o deslocamento do consumo como raiz da satisfação do bem-estar, a tensão entre economia e sustentabilidade e sugere, no final, que uma nova teoria econômica precisa incorporar muitos dos problemas atribuídos classicamente à pobreza.
Uma categoria mais complexa de indicadores que estaria relacionada aos graus de desigualdade de dada sociedade. Aliás, tese do livro.
Penso que abordagens como a dos autores, comentadas por Rezende, ajudariam mais os fóruns em questão que os fóruns têm ajudado no avanço das novas teorias de desenvolvimento e da sociedade.
RICARDO YOUNG escreve às segundas-feiras nesta coluna