Bruno Ribeiro e Tiago Dantas
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) tirou sua mulher, a primeira-dama Lu Alckmin, do controle do Parque da Água Branca, na zona oeste da capital. Um decreto publicado no sábado retirou o Fundo de Solidariedade e Desenvolvimento Social e Cultural do Estado de São Paulo (Fussesp), presidido pela primeira-dama, da gestão da área verde.
Lu Alckmin havia sido convocada pelo Ministério Público Estadual para prestar esclarecimentos sobre as obras que estão ocorrendo no parque. Há suspeita de que áreas tombadas corriam risco de serem alteradas e de que os serviços não tinham autorização de órgãos de preservação. Agora, a responsabilidade pelo parque é exclusivamente da Secretaria Estadual da Agricultura, que compartilhava, até sábado, a gestão da área com o Fussesp.
Desde 9 de junho do ano passado, o parque tinha a gestão compartilhada entre o Fussesp e a Secretaria da Agricultura. Goldman transferiu para a Casa Civil, na qual está vinculado o Fussesp, a administração de prédios e áreas de uso comum do parque. Por meio desse ato, o Fussesp, então presidido pela mulher do ex-governador, Deuzeni Goldman, e cuja sede fica no parque, pôde iniciar uma série de obras orçadas em R$ 12 milhões e questionadas por frequentadores e pela Justiça.
As obras previam a retirada de árvores nativas, troca da estrutura de concreto nas portarias, restauração de duas nascentes e novas galerias pluviais, criação de uma área exclusiva para aves, que vivem soltas, e a mais polêmica, a reforma de dois pergolados – espaços de lazer com teto vazado, tombados pelo patrimônio.
Em dezembro, o Ministério Público conseguiu barrar as obras na Justiça e pediu esclarecimentos à presidente do Fussesp. A audiência seria na próxima semana. O secretário de Agricultura, João de Almeida Sampaio Filho, também foi convidado a prestar esclarecimentos.
“Acho muito bom que a administração deixe de ser compartilhada”, afirmou o promotor de Meio Ambiente Washington Luís Lincoln de Assis. “Vamos reiniciar o diálogo para que não se faça mais nada no afogadilho do tempo, como foi feito no ano passado”, afirma o promotor.
Ele pretende negociar a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), em que o governo do Estado se comprometa a reparar os danos causados pelas obras ao patrimônio tombado do parque e a criar um conselho gestor da área verde com a participação de frequentadores. “A população que vai sofrer uma interferência precisa ser ouvida, e não surpreendida com uma série de modificações”, diz Lincoln de Assis.
Diálogo
Uma das coordenadoras do SOS Parque da Água Branca, Regina de Lima Pires, espera que a mudança na administração do parque surta efeito. “Não estão tendo cuidado na reforma. No fim de semana, com o parque cheio de crianças, nem havia sinalização direito num pedaço em que estavam fazendo obras de drenagem. Só havia uma fita plástica daquelas de ‘não passe’”, diz Regina. “O grande problema é que o parque, que tinha características rurais, ficou com jeito de jardim de condomínio fechado”, opina.