Problema atinge crianças dos primeiros anos do ensino fundamental da cidade de São Paulo. Há casos de alunos que terão de caminhar 40 minutos para chegar ao colégio. Legislação garante ensino público próximo da residência a partir dos 4 anos
Mariana Mandelli – O Estado de S.Paulo
Na primeira semana de aula da rede municipal de São Paulo, muitas famílias foram surpreendidas com a falta de vagas nas primeiras séries do ensino fundamental – período no qual a matrícula é obrigatória, segundo a legislação – e a distância entre as novas escolas e suas casas, o que também contraria a lei. Os principais casos estão na região de Guaianases, zona leste da cidade.
"Ela pede para ir para a escola e eu não sei mais o que dizer", diz a manicure Danielle de Lima, de 27 anos, mãe de Julia, de 6. Até o ano passado, ela estava no CEU Água Azul, na Cidade Tiradentes. Agora, está sem escola.
Na casa de Maria do Socorro da Silva, de 34 anos, a mesma situação: o filho, Kennedy, de 6, não para de questionar o porquê de os colegas estarem estudando e ele não. "Ele quer estrear a mochila", diz a mãe.
Segundo os pais, o problema começou na semana passada, quando saíram as listagens de alunos e das respectivas escolas do ano letivo de 2011. Ao notarem que os filhos estavam sem escola certa, procuraram a secretaria da escola municipal de educação infantil (Emei) onde estavam estudando e, sem sucesso, tentaram a Diretoria Regional de Educação de Guaianases. "Nos disseram para voltar na sexta-feira para saber o que vai acontecer", afirma Maria Elizete Viana, de 17 anos, irmã de Luana Rocha, de 5.
Muitas das crianças que estão sem escola em Cidade Tiradentes eram alunas da Emei do CEU Água Azul. Segundo os pais, a escola municipal de ensino fundamental (Emef) do CEU começou o ano de 2011 com apenas duas turmas de primeiro ano – em 2010, eram quatro. "Cada uma delas só tem 14 alunos, segundo informaram na escola. Disseram que há 32 crianças aguardando vaga nessa situação", diz Rita de Cassia Silva, de 37 anos, mãe de Lucas Silva, de 6, que está sem estudar.
Fila longa. O Estado conversou com dezenas de mães e esteve, na manhã de ontem, na diretoria de ensino de Guaianases, onde a fila de pais e crianças era longa e a espera por informação, demorada. Elas relatavam os mesmos problemas: falta de vagas e escolas distantesde casa.
Aline Cristina Santos, de 6 anos, estudava na Emei Prof. José Roberto de Castro Ribeiro e agora vai para a Emef Wladimir Herzog, que fica a 5 quilômetros de distância de onde mora. "Andando até lá, levo mais de 40 minutos", conta Tereza Santos, de 44 anos, mãe da menina. "Ontem fiquei das 9 até as 16 horas na diretoria de ensino tentando resolver isso."
A legislação afirma que a criança, a partir de 4 anos, tem direito a uma vaga na escola pública de educação infantil ou de ensino fundamental mais próxima de sua residência. Na região onde as famílias ouvidas residem, existem, por exemplo, o CEU Água Azul, a Escola Estadual Oswaldo Aranha e a Emef Professor Antonio D"Ávila. A Secretaria Estadual de Educação afirma que a escola estadual Oswaldo Aranha não está lotada.
Espera
FLÁVIA REGINA DE SOUZA
MÃE DE ALUNA
"Minha filha não tem escola para estudar em pleno início das aulas. A mochila dela está prontinha."
MÁRCIA FERREIRA
MÃE DE ALUNA
"Já fiz tudo que podia, e eles (a diretoria de ensino) pedem paciência. Mas eles dizem isso porque não é a filha deles que está fora da escola."
MARIA BERNARDETE DA SILVA
MÃE DE ALUNA
"Para ir à escola onde colocaram a Dandara tenho de andar quase uma hora. Fiz a matrícula porque tinha de fazer, mas ela não está indo. Estou na lista de espera pelo transporte da Prefeitura."