Não alcançaremos a sustentabilidade se olharmos apenas para as questões ambientais, sem nos preocuparmos com as dimensões política e social.
Por Jorge Abrahão, presidente do Instituto Ethos
No cotidiano das empresas e do país, observa-se o risco de um olhar mais voltado para as questões ambientais. Chega-se muitas vezes a reduzir o conceito “sustentabilidade” a sinônimo de ações em favor do meio ambiente. Assim, é preciso reafirmar constantemente a certeza de que não alcançaremos a sustentabilidade de uma sociedade se não olharmos também para as dimensões política e social. O desafio que se coloca para governos, empresas e a sociedade civil é integrar e equilibrar ações nas áreas política, social e ambiental. Será um erro se houver a prevalência de uma dessas áreas sobre as demais.
Na verdade, as políticas de mitigação das mudanças climáticas devem estar integradas com a geração de emprego e com a redução da pobreza e da desigualdade social, evidenciando-se, ao mesmo tempo, a necessária participação política da sociedade, de maneira a aprimorar a democracia.
Por exemplo: de nada adiantaria o Egito tornar-se um modelo em ações ambientais quando abriga um regime autoritário e sem liberdade de expressão e mantém seus cidadãos numa condição social deplorável, com altas taxas de desemprego e elevado custo de vida, dificultando sua sobrevivência e a esperança de melhoria para as gerações futuras.
Por isso é importante que espaços de debate como Davos e Dacar, os quais têm por objetivo a construção de uma visão de futuro da sociedade, estejam cada vez mais atentos a essa abordagem integrada.
O encontro de Davos acabou no outro fim de semana (30/1). Lá, o foco esteve dirigido para as questões econômicas e, ao final, passou-se a mensagem de um certo alívio para 2011, graças à perspectiva de recuperação da economia americana e à pujança dos países emergentes. Caso não se incluam nesse cenário considerações de natureza social e ambiental, muitos governos e empresas poderão tomar decisões erradas, por desconsiderarem seus efeitos na sociedade.
Se quisermos limitar a análise a uma ótica puramente econômica, podemos afirmar que os problemas sociais e ambientais são responsáveis cada vez mais por demandar crescentes fatias do PIB dos países.
Qual é o custo gerado pelos problemas sociais que vive hoje o Egito? O aumento do petróleo, o impacto na economia de vários países, a redução do turismo e o intangível sofrimento das pessoas, que é o maior dos problemas.
Qual é o custo dos problemas ambientais para cada país? Há estudos que apontam para o investimento de recursos da ordem de 10% do PIB.
Qual é o custo da crise política gerada por uma ditadura? O ambiente de guerra civil que o Egito está vivendo hoje, por exemplo.
Qual é o custo de uma crise financeira? A de 2008 mudou a vida de muitos países e pessoas por causa das recessões que provocou. A economia mundial deixou de crescer por dois anos!
Davos acabou no outro fim de semana e, neste domingo (6/2), teve início seu contraponto: o Fórum Social Mundial (FSM), que ocorre em Dacar, no Senegal. O desafio ali é propor modelos de organização da sociedade que tenham como objetivo central o atendimento das necessidades humanas. A partir dessa premissa, o FSM tem levantado uma série de propostas para os governos, as empresas e a sociedade que podem contribuir para evitar alguns dos problemas que temos vivido. Vejamos algumas dessas propostas.
Na área financeira, retomou-se a ideia de se criar um imposto sobre transações financeiras globais, que ficou conhecido como Taxa Tobin. Além de possibilitar o estabelecimento de um grande fundo para soluções de problemas sociais, esse imposto permitiria um mapeamento da movimentação financeira mundial, o qual poderia ter evitado a especulação que deu origem à crise de 2008.
Na dimensão política, as ditaduras são sempre objeto de protestos e propostas de ações que induzam seu fim. Quanto à governança global, a ideia de um maior equilíbrio político entre os países ocupa sempre grande espaço da agenda do FSM. E na questão ambiental têm surgido assuntos instigantes, como a revolução azul (no mar), a revolução verde (na terra) e as novas formas de geração de energia.
O importante é podermos extrair desses fóruns, o de Davos e o de Dacar, o que de melhor eles oferecem. Precisamos estar abertos às suas provocações e tratar sem preconceitos as idéias que ali surgem. Elas podem servir como inspiração para que governos, empresas e a sociedade civil previnam e evitem problemas como os que temos vivenciado.
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