Afra Balazina – O Estado de S.Paulo
O diesel, usado principalmente no transporte de carga, é o combustível que mais tem colaborado para as emissões pelos escapamentos de dióxido de carbono (CO2), o principal gás de efeito estufa, no Brasil. Em 2009, o diesel respondeu por 53% das emissões do transporte rodoviário do País, seguido pela gasolina, com 26%.
O primeiro inventário nacional de emissões veiculares mostra que a grande participação desse derivado do petróleo nas emissões de gases que provocam o aquecimento global tende a se manter: em 2020, deve ser responsável por 49% das emissões de CO2.
Para reverter essa situação, especialistas que participaram da elaboração do relatório afirmam que o País não pode apenas centrar sua preocupação em substituir a gasolina pelo álcool, com os carros flex fuel. "A troca é importante, mas não resolverá o problema", diz André Ferreira, diretor-presidente do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), que integrou o grupo de trabalho criado pelo governo para fazer o inventário.
O álcool também emite gases-estufa, mas a cana-de-açúcar compensa parte importante dessas emissões ao absorver CO2.
O diesel tem outro problema no Brasil: possui alta concentração de enxofre, o que é bastante prejudicial para a saúde da população. Já deveria estar em uso desde 2009 no País um diesel de melhor qualidade e menos poluente, mas houve um adiamento da medida (mais informações nesta página).
Segundo Ferreira, para reduzir as emissões é importante investir nos motores e em logística para melhorar a eficiência do transporte rodoviário de carga. Mas, principalmente, é preciso priorizar outros tipos de transporte, como o ferroviário.
Nos EUA, no Canadá, na Austrália e na Rússia, por exemplo, o transporte ferroviário da carga tem uma participação muito maior do que no Brasil. Na Rússia, por exemplo, o transporte de mercadorias sobre trilhos atinge 81%, contra 8% do rodoviário. Já no Brasil, 58% das cargas circulam por rodovias, enquanto 25% por ferrovias.
O inventário, ao identificar as responsabilidades pelas emissões, pode orientar o governo em suas políticas públicas. A secretária nacional de Mudanças Climáticas, Branca Americano, considera a realização do inventário "um grande avanço". Para ela, é preciso investir no biodiesel e repensar o transporte. "O Brasil se desenvolveu muito calcado no transporte rodoviário."
Ainda não há uma definição sobre de quanto em quanto tempo a atualização do inventário poderá ser feita, mas ela diz que "não se pensa em parar por aqui".
Expectativa. A frota do País (carros de passeio, caminhões, ônibus e motocicletas) passou de 9,3 milhões de veículos em 1980 para 38,2 milhões em 2009 – aumento de 310,7%. As emissões de CO2 do transporte rodoviário passaram de 65 milhões de toneladas para 167,1 milhões de toneladas (aumento de 156,6%).
Em 2020, a expectativa é de que a frota chegue a 48,7 milhões de veículos e o setor de transporte rodoviário emita 267,5 milhões de toneladas de CO2.
Por outro lado, é possível notar queda da emissão dos chamados "poluentes locais", como o monóxido de carbono (CO) e material particulado (MP), que pioram a qualidade do ar. Isso ocorreu por causa de decisões do Conama que exigiram inovações tecnológicas nos veículos e melhoria dos combustíveis.
O lançamento para a atmosfera do MP – mistura de poeiras e fumaça – cresceu até 1997, quando foram emitidas 69 mil toneladas do poluente. Em 2009, elas corresponderam a menos da metade do observado naquele ano.