Agência Brasil
O Fórum Social Mundial deveria intensificar a atividade política e aproveitar melhor as informações que estão em circulação, como as que vazam pelo sítio Wikileaks. A opinião é do pensador português Boaventura de Sousa Santos. “A comissão de Comunicação tem que ter um papel muito mais ativo, mais interveniente”, diz ele. “Precisamos de mais análise e organização profissional, produzindo anualmente um relatório econômico mundial, sobre o mundo que queremos e o mundo que não queremos, que não pode ser igual ao do Fórum Econômico Mundial ou o da ONU (Nações Unidas).”
Para Boaventura, o encontro, que já está na décima primeira edição, não pode perder suas características, mas deve se transformar. “É um ano de grande reflexão sobre as mudanças que têm que ocorrer dentro do próprio fórum. Penso que já há um consenso de que ele tem que ser esse espaço maravilhoso, aberto, de face à face, de encontros a cada dois anos, mas também tem que ser algo mais. Temos que intensificar a atividade política do fórum”.
Autor de mais de 30 livros, entre eles Renovar a Teoria Crítica e Reinventar a Emancipação Social; Refundação do Estado na América Latina; A Ascenção da Esquerda Global: O Fórum Social e Além; e Fórum Social Mundial: Manual de Uso, Boaventura acredita ser esta a hora de “intensificar as formas de educação e comunicação entre os movimentos. Ainda temos muitas dificuldades nessa articulação e na estratégia”. Como algo a ser criado, ele cita a Universidade Popular dos Movimentos Sociais, em termos continentais.
Sobre os temas debatidos este ano, o acadêmico, que é diretor do Centro de Estudos Sociais da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e doutor em sociologia do direito pela Universidade de Yale, destaca a própria África, que recebe o fórum pela segunda vez (a primeira foi em Nairóbi, no Quênia, em 2007). “Penso que a África vai ter outra centralidade nos negócios do mundo”, afirma Boaventura. “Hoje, é a ainda um continente onde o neoliberalismo – que já esteve muito presente na América Latina e hoje já não é tanto – ainda está muito dominante. Infelizmente, aqui, a União Europeia faz o mesmo papel dos Estados Unidos na América Latina. Mas a resistência contra isso está muito evidente aqui, com os africanos na defesa da sua economia familiar, das suas sementes, sua agricultura, sua terra. O fórum é um enorme sucesso para a África, sobretudo.”
As revoltas sociais vividas no Egito e na Tunísia nos últimos meses são, segundo ele, uma prova de que a África é um “continente movimento”, e que as transformações políticas "provavelmente não serão confinadas a esses países”.
“O fórum é a escola mais rica de cultura política que nós inventamos, mas também é a mais frágil, pois é uma coisa simples”, diz Cândido Grzybowski, diretor-geral do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e do Comitê Internacional do Fórum Social Mundial. Segundo ele, reduzir o número de atividades este ano (de 5 mil para cerca de mil) foi positivo. “O temário foi o mais avançado de todos os fóruns. É o mais bem concentrado e articulado. Há uma convergência entre os temas. Já não é mais ‘contra o FMI’, ou ‘contra o Banco Mundial’, ‘G8’, ou ‘G20’. É uma mudança ligada à crise do neoliberalismo, que ninguém acredita mais que possa se recuperar. Estamos tentando construir alternativas”, afirma Cândido.
Para a peruana Gina Vargas, da Articulação Feminista Marcosul Latinamérica, os obstáculos logísticos foram superados com discussões produtivas.“Estamos abrindo novas perspectivas que me parecem fundamentais para pensar outros mundos que sejam possíveis, libertos, plurais e democráticos”.
Para o empresário Oded Grajew, um dos criadores do Fórum, o eixo central das atividades ligadas ao Brasil foram as articulações em torno da Rio+20, conferência que pretende rever o cumprimento da Agenda 21 de crescimento econômico, desenvolvimento social e proteção ambiental estabelecida na Conferência Rio 92.
“É uma grande conferência mundial sobre a economia chamada de verde, modelo de desenvolvimento que faz com que a vida, no decorrer do tempo, seja melhor, e não pior. Aqui se articulam vários movimentos para que a Rio+20 produza os resultados que a gente espera”, afirma Garjew. Mas, diz ele, o mais importante é o que vem depois. “Todos nós militamos fora do fórum. O fórum dá a oportunidade das pessoas e organizações colocarem para todos as suas causas e se articularem com outros para ter mais força política para fazer as coisas acontecerem”.