Atualmente, bairros mais pobres têm taxas de mortes próximas às dos mais ricos. A do Jardim Ângela é menor do que a do centro
O Estado de S.Paulo
A queda brusca dos assassinatos aproximou as taxas de violência das diferentes regiões da cidade. Antes, a violência, era um problema crônico das periferias – em 1999, por exemplo, o Jardim Ângela, na zona sul, com 94 assassinatos por 100 mil habitantes, tinha taxas de homicídio 31 vezes maiores do que as de Moema, na região centro-sul, a mais baixa de São Paulo, com 3 casos por 100 mil.
Dez anos depois, o abismo entre os dois bairros ficou menos profundo. As taxas do Jardim Ângela despencaram para 15,7 homicídios por 100 mil, 11 vezes mais alto que Moema, com 1,4 por 100 mil. Mas o bairro da periferia que nos anos 1990 foi associado à violência tem hoje taxas mais baixas que República (32,4 por 100 mil), Brás (37,7 por 100 mil), Bom Retiro (17,6 por 100 mil) e Belém (24,5 por 100 mil), todos na região central.
"A diferença média que existia entre as taxas de homicídios nos bairros mais ricos era de 19 pontos em relação aos mais pobres em São Paulo. Dez anos depois, essa diferença caiu para dois pontos", afirma o cientista político Tulio Kahn, que atualmente dá consultoria ao Banco Mundial, instituição que tenta entender a queda da violência no Estado. Kahn também atua na coordenadoria de Análise e Planejamento da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. "A ideia é que o modelo do Estado de São Paulo passe a ser replicado em outros lugares."
Na distribuição territorial de homicídios em São Paulo, as taxas dos bairros da região central acabam sendo superdimensionadas por se tratarem de áreas que recebem grande afluxo de visitantes. Mesmo assim, hoje o centro é a parte da cidade que mais preocupa as autoridades. "O crescimento de 20% dos homicídios na região central, verificada o ano passado, surpreendeu. Vamos centrar as operações policiais nessa área para reverter a tendência", afirma o coronel Marcos Chaves, comandante da PM na capital.
Entre as medidas a serem tomadas pelos militares, haverá mudanças nas revistas policiais. Feitas normalmente para localizar armas de fogo nos abordados, segundo Chaves, os policiais serão orientados a fazer revistas "mais criteriosas" com o objetivo de encontrar facas. "Mesmo assim, teremos de pensar como lidar com as eventuais facas apreendidas, já que o porte de facas não é crime", afirma. Também serão reforçadas as abordagens no trânsito em busca de motoristas embriagados. "Coibindo o álcool ao volante, diminui também a chance de a pessoa chegar em casa bêbada e agir de forma violenta."
Políticas sociais. Para os integrantes do Instituto Sou da Paz, no entanto, o momento ainda é de reflexão. O Instituto esteve por trás das campanhas para retirada armas de fogo das ruas, considerada hoje um dos principais fatores da queda de violência. "As batidas da policiais para a apreensão de armas de fogo foram fundamentais para a queda dos assassinatos. Isso não significa que agora, quando estamos em uma outra etapa da violência, o mesmo método deve ser replicado no caso das facas", pondera Melina Risso, diretora do Sou da Paz.
Para Melina, nessa nova fase, é importante refinar a análise. E trazer para o debate soluções além das policiais, como políticas desempenhadas pela Prefeitura, relacionadas a estruturação familiar, mediação de conflitos, entre outras. "Depois que passamos pelo grosso da redução de homicídios, temos de pensar melhor em formas para conseguirmos caminhar para baixo dos 10 casos por 100 mil. Isso requer novas soluções. Além de manter a atenção no controle de armas de fogo, que não pode afrouxar", diz.