Capital paulista desperdiça ao menos R$ 1,7 bilhão com coleta precária
João Varella, do R7
A Prefeitura de São Paulo não coleta hoje o lixo reciclável de praticamente metade da população de São Paulo. De acordo com a secretaria de Serviços, 48% dos imóveis da cidade não contam com caminhões de coleta seletiva – contratados para o serviço pela administração municipal – que passem em sua porta. O percentual representa cerca de 5,4 milhões de pessoas (a população total da capital paulista é de 11,2 milhões, de acordo com o Censo 2010). Isso significa que esses moradores têm, por iniciativa própria, que levar o material a postos de coleta, com exceção de regiões em que cooperativas sem regulamentação fazem o serviço porta a porta.
Algumas subprefeituras – a maioria da zona leste – sofrem totalmente com o "apagão da coleta seletiva": Cidade Tiradentes (leste), Ermelino Matarazzo (leste), Guaianases (leste), M’Boi Mirim (sul), Parelheiros (sul), São Mateus (leste) e São Miguel (leste). Todas estão localizadas em regiões periféricas da cidade. Entretanto, mesmo em distritos cobertos pelo serviço da prefeitura, há ruas em que os caminhões não passam. Veja aqui os locais atendidos pela coleta seletiva porta a porta.
Estimativa do Cempre (Compromisso Empresarial para Reciclagem) aponta que a capital paulista gera 12 mil toneladas de lixo por dia (cerca de 4,4 milhões de toneladas por ano). Desse total, entre 25% e 30% têm potencial para ser reciclado. Ou seja, São Paulo gera entre 1,1 milhão e 1,3 milhão de toneladas por ano de lixo reciclável.
O R7 perguntou à Secretaria Municipal de Serviços por que quase metade das casas de São Paulo não conta com coleta seletiva em suas portas, mas a pasta não respondeu ou comentou os dados.
Por meio de nota, a secretaria disse ter ampliado a quantidade de lixo reciclável coletado. "Em 2005, foram recolhidas 5.300 toneladas de material reciclado, enquanto que, em 2010, foram 41 mil toneladas", diz o texto. Esse número representa ao menos 3,7% do potencial de lixo reciclável por ano.
Na cidade de São Paulo, duas empresas contratadas pela prefeitura fazem a coleta seletiva – a Loga, nas regiões central, oeste e norte, e a Ecourbis, nas zonas leste e sul.
De acordo com a secretaria, para o recolhimento, os resíduos devem ser acomodados em contêineres de coleta seletiva pelos moradores. Para pedir a instalação de uma caixa dessas, deve-se telefonar para o telefone 156 ou escrever para o e-mail limpurb@sac.prodam.sp.gov.br. Entretanto, é necessário antes verificar se a empresa passa em sua região. Nas ruas sem espaço para o contêiner, e que têm a coleta porta a porta, os sacos de lixo podem ser colocados nas vias públicas.
Desperdício
Estudos do Cempre apontam que o Brasil gera em riqueza R$ 12 bilhões com as cerca de 7,3 milhões de toneladas de lixo recicladas, em média, anualmente. Usando essa mesma proporção para São Paulo, a cidade deixa de gerar entre R$ 1,7 bilhão e R$ 2 bilhões – parte dessa riqueza seria gerada com a criação de empregos.
As estimativas do quanto pode ser reciclado do total de lixo produzido na cidade poderiam ser ainda maiores se forem contabilizadas técnicas de compostagem – pouco comuns no Brasil -, de acordo com o diretor-executivo do Cempre, André Vilenha. Compostagem é a reciclagem de material orgânico, que pode, por exemplo, virar adubo.
Cada um faz sua parte
Para chegar a usar o pleno potencial da cidade em reutilizar o chamado lixo seco, seria preciso uma grande campanha educacional. A arquiteta Nina Orlow, integrante do grupo de estudos de meio ambiente da Rede Nossa São Paulo, diz que a prefeitura falha nesse sentido.
– Nunca recebi na minha casa, e não conheço ninguém que tenha recebido, alguma orientação da prefeitura sobre como fazer a separação do lixo.
Para ela, é necessário minimizar a produção de lixo de cada família – outro ponto que precisaria de campanhas de educação massivas. Vilenha, do Cempre, defende que a prefeitura faça convênios com catadores.
– Hoje, para cada tonelada [de lixo reciclado] que a prefeitura coleta, você tem quase 20 toneladas coletadas por catadores ou sucateiros.
A prefeitura informou ter ampliado as centrais de triagem. No ano passado, quatro cooperativas foram conveniadas, chegando ao total de 20. "O Limpurb [Departamento de Limpeza Urbana] já está em busca de áreas para implantar novas centrais de triagem que possam receber outras cooperativas e, ainda neste primeiro semestre, será inaugurada mais uma central de triagem, na região da Lapa."
Se medidas urgentes não forem tomadas quanto à pouca reciclagem, o IPTU (Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana) de São Paulo pode dar um salto, alerta Vilenha. Com o lixo tendo que ser depositado cada vez mais longe, o custo da operação aumenta. A verba para a coleta de lixo sai praticamente toda do IPTU.
Foi recebida com alegria pelos ativistas a nova Política Nacional de Resíduos Sólidos regulamentada no final do ano passado, que obriga todos os municípios a fazerem coleta seletiva nos próximos quatro anos. Depois desse período, quem não separar lixo seco do orgânico vai ser multado em até R$ 500. As cidades que não fizeram a coleta seletiva podem sofrer multas de até R$ 10 milhões.