Estudo estimula grandes empresas a não comprarem de quem devasta a Amazônia

 

2º Conexões Sustentáveis rastreia cadeias produtivas da pecuária, madeira e soja, apontando casos de fornecedores destes produtos que cometem crimes ambientais e trabalhistas

Airton Goes airton@isps.org.br   

Estimular o setor público e as grandes empresas que atuam na capital paulista a selecionar melhor seus fornecedores e não adquirir produtos de grupos envolvidos em crimes ambientais e trabalhistas na região da Amazônia. Esta foi a tônica do seminário de lançamento do 2º Estudos Conexões Sustentáveis: São Paulo – Amazônia, realizado nesta quarta-feira (23/2) no Sesc Vila Mariana.

O estudo, realizado pelas ONGs Repórter Brasil e Papel Social Comunicação, fez um novo rastreamento das cadeias produtivas da pecuária, da madeira e da soja, apontando doze casos específicos de fornecedores destes produtos que não respeitam a legislação ambiental e a trabalhista na região da Amazônia.

Entre os casos selecionados como exemplo de como as empresas, ao adquirirem produtos deste tipo de fornecedor, estão contribuindo para a devastação da Floresta Amazônica, encontram-se fazendas que fraudaram o plano de manejo e foram flagradas utilizando trabalho escravo. Ainda assim, continuam a fornecer madeira, carne e soja para grandes companhias.

Os esquemas de “esquentamento” de madeiras retiradas da floresta de forma ilegal e a corrupção dos órgãos públicos que deveriam fiscalizar o cumprimento da legislação ambiental também são denunciados pelo documento.

Apresentado por Leonardo Sakamoto, da Repórter Brasil, e por Marques Casara, da Papel Social Comunicação, o 2º Estudo Conexões Sustentáveis: São Paulo – Amazônia está disponível na internet em formato multimídia.

Logo no início do evento, o gerente de Políticas Públicas do Instituto Ethos, Caio Magri, fez um chamamento às empresas para que passem a integrar os pactos da soja, da carne e da madeira, se comprometendo a não adquirir estes produtos de fornecedores que atuam de forma ilegal. “Convidamos as organizações a mudarem suas relações com a região Amazônica”, propôs.

Oded Grajew, coordenador da Rede Nossa São Paulo, destacou a responsabilidade das empresas no processo. “Partimos do princípio de que nem todo mundo sabia o que acontecia na sua cadeia de produção. Agora sabe”, afirmou ele, estimulando o engajamento das grandes corporações no estabelecimento de conexões sustentáveis com a Amazônia. “Nossa expectativa [com o estudo] é gerar um processo exemplar, de multiplicação, até chegar a políticas públicas e universais”, acrescentou Grajew.

Durante o debate realizado logo após a apresentação do estudo, a importância do envolvimento das companhias com as práticas comerciais sustentáveis voltou a ser destacada. “A resposta que gostaríamos de ouvir das empresas é que, a partir destes casos denunciados no estudo, elas irão rastrear suas cadeias de produção e mudar o padrão de habilitação dos fornecedores”, argumentou Valmir Ortega, diretor do Programa Cerrado-Pantanal, da Conservação Internacional do Brasil.

Outro ponto abordado no debate foi o papel do consumidor. “Ele não tem informações concretas que lhe permitam reconhecer facilmente a carne que teve origem em processos ilegais”, exemplificou Adriana Guazzeli Charoux, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

Ela relatou que o Idec já realizou três pesquisas sobre o assunto: a primeira com os principais supermercados de São Paulo, a segunda com os frigoríficos e a terceiras com as principais redes de supermercados e frigoríficos de todo o país. “Não nos deram suas listas de fornecedores nem informações mais concretas sobre a carne rastreada”, relatou.

Para Adriana, “o desafio é transformar este tipo de iniciativa [lançamento do 2º Estudo Conexões Sustentáveis: São Paulo – Amazônia] em instrumento concreto para o consumidor”.

O tema reapareceu no final do debate, quando Janaina Pedral, representante da empresa Leo Madeira Ltda., deixou um alerta: “Alguém já questionou a origem da madeira, se a madeira [bruta ou utilizada na fabricação de um determinado móvel] é certificada?”.

Além das pessoas citadas, participaram do lançamento do estudo Jorge Luiz Numa Abrahão, presidente do Instituto Ethos, Leda Maria Aschermann, secretária adjunta da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, Roberto Smeraldi, diretor da ONG Amigos da Terra, e Sérgio Mauro, o “Sema”, do Instituto Sócio-Ambiental, entre outros.

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