Investir 2% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial em dez setores estratégicos significa dar um pontapé inicial rumo à uma economia de baixo carbono e erradicação da pobreza. A conclusão consta no relatório Rumo a uma Economia Verde: Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável e a Erradicação da Pobreza, divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) nesta segunda-feira, 21 de fevereiro.
Apoiada por políticas nacionais e internacionais inovadoras, a soma, que atualmente correspondente a cerca de US$ 1,3 trilhão por ano, fomentaria o crescimento da economia global em níveis provavelmente superiores aos dos atuais modelos econômicos.
Os dez setores estratégicos apontados pelo Pnuma no documento são: agricultura, construções, suprimento de energia, pesca, florestas, indústria, turismo, transporte, manejo de lixo e água.
O relatório sugere um modelo econômico que evitaria riscos, choques, escassez e crises cada vez mais inerentes na atual economia de altas emissões de gases-estufa. Ao mesmo tempo, o documento contesta os mitos de que investimentos ambientais vão contra o crescimento econômico, trazendo à tona a má alocação de capital.
Desenvolvida por economistas e especialistas de diversas áreas, a publicação trata a economia verde como um tema relevante não apenas para as economias mais desenvolvidas, mas também como um catalisador-chave para o crescimento e erradicação da pobreza nas economias em desenvolvimento, nas quais, em alguns casos, cerca de 90% do PIB estão ligados à natureza ou a recursos naturais, tais como a água potável.
"A economia verde, conforme documentado e ilustrado no relatório do Pnuma, proporciona uma avaliação centrada e pragmática de como os países, as comunidades e as empresas iniciaram uma transição para um padrão mais sustentável de consumo e produção", afirmou Achim Steiner, subsecretário geral da ONU e diretor executivo do Pnuma.
Economia insustentável
Atualmente, o mundo gasta entre 1% e 2% do PIB global em uma série de subsídios que, geralmente, prolongam a insustentabilidade do uso de recursos como combustíveis fósseis, agricultura, água e pesca.
Grande parte dessas ações contribui para intensificar os danos ambientais e ampliar a ineficiência na economia global. Diminuí-las ou eliminá-las poderia gerar múltiplos benefícios no processo de liberação de recursos para financiar uma transição rumo à economia verde, defende o estudo.
Caso fosse uma realidade mundial, a economia verde contribuiria para o desenvolvimento e para o aumento da renda per capita refletida nos atuais modelos econômicos, além de também fomentar a redução da pegada ecológica em 50% até 2050.
Listamos para você outras conclusões importantes do estudo:
* Um investimento anual de cerca de 1,25% do PIB mundial em eficiência energética e energias renováveis poderia reduzir a demanda global por energia primária em 9% em 2020 e em 40% até 2050;
* A economia de capital e de gastos com combustível na geração de energia, sob o cenário da economia verde, seria de US$ 760 bilhões entre os anos de 2020 e 2050;
* Em uma economia de baixo carbono fica factível a diminuição das emissões de gases de efeito estufa para níveis muito mais seguros, de 450 partes por milhão até 2050.
Dos 2% do PIB propostos no relatório, os montantes investidos para o "esverdeamento por setor" incluiriam US$ 108 bilhões para a agricultura; US$ 134 bilhões para o setor imobiliário, por meio da melhoria da eficiência energética; mais de US$ 360 bilhões para o abastecimento de energia; quase 110 bilhões de dólares para a pesca, incluindo a redução de capacidade das frotas mundiais; US$ 15 bilhões para a silvicultura, o que ajudaria também no combate às alterações climáticas; US$ 75 bilhões para a indústria; US$ 135 bilhões para o setor de turismo; US$ 190 bilhões de para os transportes; US$ 110 bilhões para a gestão de resíduos, incluindo a reciclagem; e um montante semelhante para o setor da água, incluindo questões de saneamento.
“Os governos têm um papel central na mudança das leis e das políticas e no investimento de bens públicos para possibilitar a transição. Ao fazê-lo, podem também desbloquear os bilhões de dólares do capital privado em benefício de uma economia verde", destacou Pavan Sukhdev, economista sênior do Deutsche Bank e diretor da área de Economia Verde do Pnuma.
“A aplicação inadequada de capital está no centro dos atuais dilemas do mundo e há medidas rápidas que podem ser tomadas, começando, literalmente, hoje – desde a diminuição e eliminação dos mais de US$ 600 bilhões de subsídios globais para combustíveis fósseis ao reencaminhamento dos mais de US$ 20 bilhões de subsídios inadequadamente atribuídos a entidades envolvidas em atividades de pesca insustentável”, Pavan Sukhdev.
Relatório projeta a Rio+20
O relatório do Pnuma também destaca a importância da Rio+20, evento sobre desenvolvimento sustentável que será realizado em 2012 no Rio de Janeiro, 20 anos depois da ECO-92, também conhecida como Cúpula da Terra. “O mundo está de novo a Caminho do Rio, mas em um planeta muito diferente daquele da Cúpula da Terra que se realizou no Rio de Janeiro em 1992, comparou Achim Steiner.
“A Rio 2012 surge em um contexto de rápida redução de recursos naturais e de alterações ambientais aceleradas – desde a perda de recifes de corais e florestas à crescente escassez de terra produtiva; desde a necessidade urgente de fornecer alimento e combustível às economias até os prováveis impactos das alterações climáticas descontroladas”, alertou o diretor do Pnuma.
– Acesse o documento na íntegra (em inglês) – http://www.unep.org/GreenEconomy/Portals/93/documents/Full_GER_screen.pdf