Rio invade a Marginal em 6 pontos e tumultua a vida de milhares de pessoas; só um terço dos piscinões previstos em 1998 saiu do papel
Bruno Paes Manso, Diego Zanchetta, Eduardo reina, Paulo Saldana, Renato Machado, Rodrigo Brancatelli, Valéria França e Flávia Tavares – O Estado de S.Paulo
Ruas travadas, Marginal interditada, carros boiando, pessoas ilhadas. O drama paulistano das enchentes, que já atingiu a zona oeste da cidade no domingo, ganhou mais força ontem em outras regiões, principalmente norte e leste. O Rio Tietê, que ficou quatro anos sem alagamentos (entre 2005 e 2009), transbordou pela terceira vez em 50 dias. E, caso o prazo de investimentos governamentais seja mantido, São Paulo só vai livrar-se das enchentes em 40 anos.
Além do Tietê – que saiu do leito perto das Pontes das Bandeiras, Vila Maria, Aricanduva, Tatuapé e Limão – transbordaram o Córrego Aricanduva e o Rio Tamanduateí. A cidade registrou 49 pontos de alagamentos e os bombeiros receberam 136 chamados relacionados à chuva – dezenas na região do Aricanduva. Na zona norte, uma pessoa ficou ferida após a queda de um muro de supermercado. O rodízio de veículos foi suspenso à noite. Houve queda de energia no centro e 88 semáforos apagaram,
Também choveu forte em Guarulhos, Osasco, ABC, Jundiaí, Campo Limpo Paulista, Várzea Paulista e Santos – onde a Defesa Civil municipal registrou 15 deslizamentos em morros, mas sem vítimas.
Em Santo André, a Avenida dos Estados ficou interditada próximo do centro da cidade, por causa do transbordamento do Tamanduateí. Em Guarulhos, uma cratera com 5 metros de comprimento foi aberta na Avenida Paulo Freire, ao lado do Córrego Boituva. Na capital, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) registrou o segundo pior congestionamento do ano: 150 km, às 19h42. Alagamentos interromperam a circulação de duas linhas da CPTM – a 7-Rubi e a 10-Turquesa.
Futuro. A solução para São Paulo ficar livre das enchentes só deve vir em 2050. Atualmente, 45 piscinões – ou um terço do previsto em 1998 pelo Plano de Macrodrenagem do Alto Tietê – foi finalizado, o suficiente para armazenar 9 milhões de m³. Pelo projeto, para resolver o drama paulistano seria preciso fazer mais 91 reservatórios, com capacidade para 26,6 milhões de m³ (ou 9.500 piscinas olímpicas). Eles comportam temporais de até 80 mm – ontem na foz do Aricanduva caíram 82,5 mm, segundo o Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee).
O superintendente do Daee, Amauri Pastorello, diz que há problemas para construir reservatórios na Região Metropolitana, que segue em ritmo lento. "Faltam terrenos para ampliar piscinões."
Para Pastorello, a chuva de ontem, que começou na zona leste, foi de grande intensidade, o que diminuiu a velocidade no escoamento do Tietê.
A vazão ficou reduzida a partir do entroncamento com o Tamanduateí e o Aricanduva. O contrato com a empresa que faz desassoreamento do Tietê acaba em abril. O Daee quer concluir nova licitação até essa data. O objetivo é retirar neste ano 2,1 milhões de m³ de sujeira do rio.
Leia também: "Faltam 5 piscinões no Aricanduva e no Anhangabaú" – O Estado de S.Paulo