“Estatístico que vendia dados sigilosos é demitido” – Folha de S.Paulo

 

Coordenador da Secretaria da Segurança liberava dados através de sua empresa

Governador Alckmin disse que desconhecia empresa; secretário da Segurança pedirá que caso seja investigado

MARIO CESAR CARVALHO
AFONSO BENITES
DE SÃO PAULO

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) demitiu ontem o sociólogo Túlio Kahn da chefia da CAP (Coordenadoria de Análise e Planejamento), órgão da Secretaria da Segurança que concentra as estatísticas criminais.

O anúncio foi feito após a Folha revelar que Kahn é, desde 2005, sócio-diretor da Angra Consultoria, empresa que vende serviços de consultoria e disponibiliza dados que a própria secretaria considera sigilosos.

"[Kahn] É um profissional competente. Mas essa atividade empresarial dele é incompatível com o cargo que ocupa", declarou Alckmin.

Procurado ontem, Kahn não comentou sua demissão.

O secretário da Segurança, Antonio Ferreira Pinto, disse que não sabia da existência da empresa de Kahn. Ele afirmou que pedirá ao Ministério Público e à Corregedoria-Geral do Estado a investigação de eventuais irregularidades por parte do ex-funcionário.

Entre outros dados sigilosos, Kahn já forneceu informações como furtos a transeuntes na região metropolitana de Campinas e os bens que costumam ser roubados nos assaltos a condomínios na cidade de São Paulo.

A Folha solicita desde 2008 dados de grande interesse público, como as ruas mais visadas por assaltantes ou as que concentram os furtos de veículos.

A secretaria nega esses dados sob a alegação de que a divulgação poderia provocar pânico entre os moradores na área. Kahn chegou a escrever que a disseminação dessas informações desvalorizaria a economia da região.

Alckmin disse que o governo estuda a liberação desses dados. O governo de Minas, também administrado pelo PSDB, libera as informações.

Kahn assumiu o cargo na secretaria em 2003, durante o governo Alckmin e a gestão de Saulo de Castro na Segurança. Foi mantido por Ronaldo Marzagão e por Antonio Ferreira Pinto.

Em sua defesa, Kahn sustenta que foi o próprio governo que o orientou a abrir a empresa de consultoria.

Alckmin negou a orientação: "Imagine se o governo vai recomendar a alguém ter uma atividade paralela". Ele não decidiu ainda quem substituirá Kahn no cargo.

OUTRA BAIXA

Kahn é o segundo funcionário do alto escalão da Segurança Pública a ser afastado nos últimos seis dias.

A então corregedora da Polícia Civil, Maria Inês Valente, saiu do cargo por ter defendido quatro delegados que desnudaram uma escrivã suspeita de corrupção.

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