Mooca é a única subprefeitura de São Paulo em que a quantidade per capita de livros destinados à faixa etária de 7 a 14 anos atinge o mínimo recomendado pela Unesco
Airton Goes airton@isps.org.br
A quantidade de livros destinados ao público infanto-juvenil disponíveis nas bibliotecas e nos pontos de leitura municipais de São Paulo está abaixo da sugerida pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). De acordo com dados recém-atualizados no Observatório Cidadão da Rede Nossa São Paulo, a cidade chegou ao final de 2010 com a média de 0,41 livro para cada habitante na faixa etária de 7 a 14 anos, enquanto o mínimo recomendado pelo organismo internacional é de 2 livros per capita. A situação é pior para as crianças e os adolescentes que moram nas subprefeituras da Cidade Ademar e de São Mateus, pois em ambas as regiões o indicador é “zero”.
Recentemente a Secretaria Municipal de Cultura inaugurou um ponto de leitura na região de São Mateus, mas não há informação sobre o acervo de livros infanto-juvenis do equipamento. O projeto de pontos de leitura – pequenas bibliotecas de bairro – foi iniciado em 2006 e conta atualmente com 12 espaços, instalados em parceria com as subprefeituras na periferia da cidade. Nenhum deles na Cidade Ademar.
Para Rita de Cássia Soares Cardoso, a Kakau, que é moradora e militante cultural da Cidade Ademar, o “zero” ostentado pela região no indicador de livros infanto-juvenis não representa novidade. “Fico impressionada e triste [com o dado], mas surpresa a gente sabe que não é, pois aqui não tem nenhum equipamento público na área da cultura”, constata.
Kakau lembra que há vários anos as entidades e lideranças locais reivindicam um equipamento de cultura, com biblioteca. “A demanda pelo espaço cultural faz parte do histórico da região”, afirma. Ela, que também participa da Pastoral da Juventude, avalia que a falta deste tipo de equipamento público tem sérias consequências. “A gente percebe que nesses bairros, em que a juventude e a criançada, em geral, não são prioridades das políticas públicas, os níveis de violência são maiores.”
Segundo dados da pesquisa de percepção dos paulistanos sobre os Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município – IRBEM, a Cidade Ademar é uma das duas subprefeituras – a outra é Capela do Socorro – em que os moradores se mostram mais insatisfeitos com a qualidade de vida em São Paulo. Lá a nota média atribuída ao índice é de 4,5.
Por outro lado, a Mooca, com acervo de 2,18 livros infanto-juvenis per capita, é a subprefeitura com o melhor indicador da cidade e a única que atinge o mínimo recomendado pela Unesco. Mesmo sem alcançar o índice preconizado pela organização, as subprefeituras da Lapa, Pinheiros, Santo Amaro, Vila Mariana e Sé também estão situadas nos primeiros lugares do ranking. Os indicadores destas regiões variam de 1,21 a 1,45 livro per capita.
Na parte de baixo da tabela, além de Cidade Ademar e São Mateus, estão outras subprefeituras da periferia, como Cidade Tiradentes, São Miguel, Parelheiros e M´Boi Mirim. Todas com índices muito próximos de “zero”.
Os dados do Observatório Cidadão da Rede Nossa São Paulo sobre o indicador de livros infanto-juvenis per capita não consideram as bibliotecas dos centros educacionais unificados (CEUs) nem o acervo dos ônibus-biblioteca que circulam pela cidade. Os roteiros dos quatro veículos e a localização das bibliotecas municipais estão disponíveis no site da Secretaria de Cultura.