Atlas divulgado pela Agência Nacional de Águas mostra que cerca de metade das cidades responde por 70% do consumo hídrico no Brasil; estudo conclui que será necessário investimento de R$ 70 bilhões para garantir oferta do recurso até 2025
Marta Salomon / BRASÍLIA – O Estado de S.Paulo
De todos os municípios brasileiros, mais da metade (55%) poderá ter problemas no abastecimento de água até 2015. É o que mostra um estudo feito pela Agência Nacional de Águas (ANA), que avaliou a oferta e o crescimento de demanda de água em todas as 5.565 cidades do País. Esses municípios representam mais de 70% do consumo de água.
O Atlas Brasil, que será divulgado oficialmente amanhã, conclui que o Brasil precisará investir pelo menos R$ 70 bilhões para garantir a oferta de água de boa qualidade aos municípios até 2025, quando a população deverá alcançar cerca de 196 milhões de habitantes.
Desse total, quase 70% (R$ 47,8 milhões) teriam de ser investidos na coleta e tratamento de esgotos, apenas para evitar ou resolver a poluição nas fontes de abastecimento de água, já que o dinheiro não seria suficiente para universalizar o acesso ao esgoto, o maior problema da área de saneamento.
"Os problemas associados à poluição hídrica são mais evidentes nos grandes aglomerados de municípios, em função da pressão das ocupações urbanas sobre os mananciais de abastecimento público: o lançamento de esgotos sem tratamento dos municípios localizados à montante influenciam diretamente a qualidade das águas", afirma o documento. A montante é o lado da nascente, em relação a um curso de água. A região do Rio Paraná exige o maior volume de investimentos.
Nordeste e Sudeste. O total de investimentos necessário para garantir a oferta de água equivale ao pagamento de mais de quatro anos dos benefícios do Bolsa-Família ou ainda mais de duas vezes a estimativa de custo do polêmico trem-bala entre São Paulo e Rio.
As obras sugeridas em 3.027 municípios brasileiros beneficiariam o equivalente a 71% da população do País no prazo do planejamento da Agência Nacional de Águas.
Para financiar esses gastos, o estudo sugere investimentos do Orçamento da União, dos próprios prestadores de serviços, empréstimos públicos de agências multilaterais ou ainda por meio de parcerias público-privadas (PPPs).
Com base no crescimento da população, a Agência Nacional de Águas estima que as Regiões Sudeste e Nordeste vão concentrar, em 2025, 71% da demanda por água no País.
As duas regiões são tratadas com destaque no estudo. O Sudeste, porque concentra os maiores aglomerados urbanos do País. Por sua vez, o Nordeste registra o maior número de municípios nos quais o abastecimento é considerado insatisfatório.
Em 2015, apenas 18% da população nordestina seria atendida por sistemas de abastecimento de água tidos como satisfatórios. "O desafio do ponto de vista do abastecimento de água consiste no fato de a população brasileira estar concentrada justamente nas regiões em que a oferta de água é mais desfavorável", diz o documento.
São Paulo. No Estado de São Paulo, 64% dos municípios têm problemas de abastecimento de água, segundo o Atlas, e chega a 71% o porcentual da população nos municípios paulistas com necessidades de investimento apontadas pelo estudo.
Os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco reúnem mais da metade (51%) dos investimentos projetados pela ANA. O plano da Agência Nacional de Águas prevê também investimentos para reduzir as perdas no sistema de abastecimento, assim como o melhor gerenciamento das outorgas para uso das águas dos rios.