“Governo paulista decide abrir dados da violência” – Folha de S.Paulo

 

Detalhamento de locais de crimes será ampliado, diz Secretaria da Segurança

Mudança é anunciada após responsável pelas estatísticas oficiais ser demitido do governo por vender informações

ROGÉRIO PAGNAN
DE SÃO PAULO

O governo paulista se comprometeu ontem a abrir para a população dados criminais até agora mantidos em sigilo.

O plano da Secretaria da Segurança é divulgar informações mais detalhadas, o que incluiria dados por delegacias -atualmente eles são divididos por municípios.

Também pretende atualizá-los mensalmente -hoje a atualização é trimestral.

Não está descartada, segundo a pasta, a divulgação por endereços dos crimes, como ocorre em países como Inglaterra e Estados Unidos.

A medida deve começar a valer ainda neste semestre.

É a primeira vez que o governo se compromete a ampliar a divulgação de dados da violência, disciplinada em 1995 por uma lei estadual.

A mudança é anunciada dias depois de o governo Geraldo Alckmin (PSDB) demitir o sociólogo Túlio Kahn, que foi por muitos anos o responsável pela coordenação e divulgação desses dados.

Publicamente, Kahn defendia o sigilo do mapa da violência por áreas da cidade. Um dos argumentos usados era o de que esses detalhes, se tornados públicos, poderiam desvalorizar imóveis em regiões específicas.

Mas o sociólogo mantinha uma empresa que comercializava estudos com base justamente nos dados sigilosos.

Ele cobrava até R$ 250 mil pelos estudos, conforme revelado pela Folha neste ano.

Kahn afirma que jamais violou o sigilo de dados criminais. Segundo ele, as empresas não eram seus "clientes", mas "patrocinadores" de pesquisas sobre violência.

A pasta da Segurança nega relação entre a ampliação da divulgação e o caso. Diz, porém, que a meta, agora, é tornar as decisões da CAP (Coordenadoria de Análise e Planejamento), onde Kahn trabalhava, "mais compartilhadas e menos personalistas".

O formato do novo pacote estatístico ainda não está definido por questões técnicas, de acordo com a secretaria.

O Infrocrim -sistema de inteligência da polícia- também será modernizado.

O governo diz que os dados serão apresentados com "uma margem de segurança", a fim de evitar reproduções incorretas.

A Secretaria da Segurança também fala em ampliar a lista de delitos computados.

Especialistas em Segurança Pública afirmam que a ampliação da divulgação pode ajudar a prevenir violência. Cláudio Beato diz que o ideal é mostrar o endereço dos crimes. Luis Flávio Sapori diz que, concretizado o plano, o Estado será "exemplo".

Para o criminalista Roberto Soares Garcia, a população ganha meios para cobrar o Estado. "É direito do cidadão ter acesso aos dados."

Compartilhe este artigo