Estatística, até então mantida em sigilo e só divulgada trimestralmente, poderá ser acessada por qualquer cidadão
Governo promete ainda que todas as unidades da Polícia Militar no Estado registrarão BOs a partir de agosto
ROGÉRIO PAGNAN
AFONSO BENITES
DE SÃO PAULO
A partir de 15 de abril, pela primeira vez na história, qualquer cidadão do país poderá ter acesso às estatísticas da criminalidade de São Paulo atualizadas mês a mês e detalhadas por delegacia de polícia -divulgação inédita no Brasil.
A abertura dos dados, até então sigilosos, foi antecipada pela Folha na terça-feira e confirmada oficialmente ontem pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) e pelo secretário da Segurança Pública, Antônio Ferreira Pinto.
"E no futuro, as divulgações serão até por bairro", afirmou o governador Alckmin que, agora, deve transformar essa decisão em lei.
Para o secretário da Segurança, essa transparência na divulgação será utilizada pela própria população na cobrança de um melhor trabalho dos policiais.
"A divulgação dos números vai forçar que os próprios Consegs (conselhos de segurança) obriguem a polícia a se dedicar mais naqueles bairros onde a criminalidade é maior", disse o secretário.
"Não tem por que omitir dados. Eles são todos públicos", completou.
Com o detalhamento dos dados as seguradoras poderão discutir, futuramente, uma readequação no valor dos seguros de automóveis.
"Seguro é reflexo do que acontece na rua. Se determinada região tiver menos roubos, o seguro lá deverá cair", diz dirigente da Fenseg (Federação Nacional de Seguros Gerais), Maurício Galian.
O secretário negou ligação entre a abertura dos dados e a demissão do sociólogo Túlio Kahn. Ele era, até o início do mês, o responsável pela coordenação das estatísticas e tinha uma empresa que comercializava estudos com bases nos dados sigilosos.
A demissão ocorreu após reportagem da Folha revelar essa comercialização.
REESTRUTURAÇÃO
Além da abertura de dados estatísticos, Alckmin anunciou que até agosto as unidades da PM em todo o Estado registrarão boletins de ocorrência -que hoje podem ser registradas pela internet. O serviço é mais voltado para a população mais pobre.
A medida é parte de uma ação para que as polícias atuem de forma mais integrada. "Na realidade, o policial militar passa a ser uma força de trabalho do delegado de polícia. Ele vai fazer o BO para o delegado", afirmou o secretário Ferreira Pinto.
Ontem, Alckmin disse que as delegacias do interior não serão fechadas, mas a secretaria divulgou nota dizendo que DPs serão aglutinados. Para o secretário da Segurança, na capital dificilmente o governo conseguirá agrupar delegacias, devido à sua dinâmica criminal.
