Os resultados da pesquisa Valores Brasil 2010, realizada pela Marcondes Assessoria, foram apresentados ao público no auditório do Banco Santander, em São Paulo, na terça, 29 de março. Odino Marcondes, sociólogo e sócio-fundador da Marcondes Assessoria, recebeu para um debate os convidados Malu Pinto, diretora de Sustentabilidade do Banco Santander, o professor e economista Eduardo Giannetti, e Mozart Ramos, conselheiro do “Todos pela Educação”.
“Nossa intenção é mostrar como o brasileiro vê o Brasil e promover a discussão”, observou Marcondes. O estudo teve apoio do Banco Santander e foi realizado a partir da metodologia de Richard Barrett, ex-coordenador de Valores do Banco Mundial. Em diversas partes do Brasil, as perguntas feitas partiram de três aspectos: quais valores demonstram quem você é?, quais representam o Brasil de hoje?, e, quais representam o Brasil do futuro?
Segundo a pesquisa, corrupção, pobreza e violência dominaram a visão do Brasil no presente. “A escolha de valores ‘tóxicos’ sugere passividade. Foram pouco votados os relacionados à busca de soluções”, analisa Marcondes. Para o futuro, foram citados paz em 40% das respostas, justiça em 28%, e redução da pobreza em 27%. “A garantia de paz causará enorme impacto social, deveria ser parte importante da agenda do novo governo”, concluiu Marcondes. “A falta de autoestima é terreno fértil para o populismo, que aumentou na última década”, acrescentou.
Ao abrir o debate, Eduardo Giannetti, autor de O Valor do Amanhã e O Auto-engano, não demonstrou surpresa com os resultados. “Pessoas relatam valores que não são os que vivem. No Brasil, se você perguntar a alguns se são felizes, dois terços responderão que sim. Porém, ao redor, não veem tanta felicidade. Mais de 80% responderá que existe preconceito, mas não se dirá preconceituoso. E, embora se identifique um nível de confiabilidade baixo, todos se consideram confiáveis. É paradoxal. A diferença do grau de dissociação entre si próprio e os outros deveria ser central à reflexão”, ponderou.
Segundo Mozart Ramos, ex-secretário da Educação de Pernambuco, “falta homogeneidade de valores para a sustentabilidade do país. Se a classe média paga mais de mil reais para filhos estudarem em escola particular e acha que R$ 2,4 mil per capita anual para a escola pública é caro, eis a dicotomia”.
“É preciso trabalhar as consciências diversas nos processos de decisão”, analisou Malu Pinto. “Jovens demonstram dificuldade de interdependência e diversidade. Nas pesquisas de clima, é preciso muito coaching para que tomem consciência”. Para ela, “a contradição reflete o que somos e acontece em todas as esferas, infelizmente. A mudança tem que ser de dentro para fora. Emergencialmente, será necessário introduzir isso”.
A plateia foi bastante participativa. Claude Dominique, francês radicado no Brasil, referiu-se ao sociólogo Pierre Bourdier, “passado e futuro estão no presente, mas a anestesia pode deixá-lo fantasioso. A dificuldade de assumir é um prato cheio para qualquer psicanalista”. Convidada a responder para Dominique, a psicóloga Malu Pinto observou que “liderança vem quando a autoestima passa a níveis mais altos. Não é apenas questão de educação, empresas podem ajudar a colocar isso na prática”. Ademar Bueno, professor da Fundação Getúlio Vargas, acrescentou que “não é simples ajudar os alunos a conectar os valores que trazem à vida profissional”.
Para encerrar o debate, a mediadora questionou os convidados: por onde devemos começar a estratégia de mudança de valores? “É preciso identificar a dificuldade de se ver de fora e não se omitir”, respondeu Giannetti. Malu adicionou: “devemos continuar a promover debates. O brasileiro tem um lado positivo, sabe lidar com crises”. E Ramos lembrou que “é preciso um pacto nacional para a Educação, ou se faz agora ou não seremos protagonistas. Responsabilidade pública não é apenas coisa de governo”.
Por Marília Arantes