Tiago Dantas
O projeto Nova Luz pretende mudar a cara de 60% do perímetro formado pelas avenidas Ipiranga, São João, Duque de Caxias, Cásper Líbero e Rua Mauá, no centro da capital. Cerca de 300 mil metros quadrados da cracolândia, o equivalente a 63 campos de futebol como o Morumbi, deverão ser desapropriados para que prédios residenciais e comerciais, estacionamentos, praças e equipamentos culturais saiam do papel.
Um estudo preliminar de viabilidade econômica do projeto aponta que seria necessário cerca de R$ 1,1 bilhão para a compra de todos esses imóveis, a demolição deles e a remoção do entulho. O pagamento de valores de mercado pelos terrenos é uma das reivindicações de moradores e comerciantes da região, que temem receber o valor venal, que é mais baixo. Outro pedido é que ninguém seja obrigado a deixar o bairro.
Questionada sobre os números, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano, pasta responsável pelo projeto, informou que “foram estimativas baseadas em várias metodologias e de forma preliminar”, o que significa que o valor ainda pode ser alterado. A secretaria disse, também, que “deverá o concessionário, preferentemente à desapropriação, efetuar entendimentos com o proprietário do imóvel para eventual composição amigável”.
Ainda não há prazo para o lançamento do edital que escolherá a empresa que ganhará a concessão do perímetro. Em troca da realização das obras, esse grupo poderá lucrar com a venda dos novos imóveis. A escolha da construtora da Nova Luz só poderá ser feita depois que o projeto urbanístico estiver pronto. Inicialmente prevista para ser entregue neste mês, a proposta definitiva deverá ser apresentada até o fim de junho, segundo a Prefeitura.
O plano está sendo elaborado desde 17 de junho do ano passado pelo Consórcio Nova Luz, formado pelas empresas Concremat Engenharia, Cia.City, Aecom e Fundação Getúlio Vargas. O arquiteto e urbanista Cândido Malta Campos Filho aprovou o pré-projeto, apresentado em dezembro pelo consórcio.
“Gostei dos princípios: primeiro, o privilégio aos pedestres, com o alargamento de calçadas. Segundo, o reconhecimento dos eixos comerciais, resguardando o direito dos comerciantes. Terceiro, por ter bulevares arborizados e permitir habitações de baixa renda”, disse Malta.
A também urbanista Lucila Lacreta, diretora do Movimento Defenda São Paulo, mostrou sua preocupação com a concessão de 45 quarteirões da cidade para a iniciativa privada. “Numa concessão, a empresa presta um serviço para a sociedade, como a Eletropaulo, por exemplo. Na Nova Luz, a empresa que vencer a concessão vai desapropriar terrenos baratos para construir prédios maiores e mais caros para ela própria. Cadê o interesse público nisso?”
Embora prometa mudanças em 60% do terreno, o plano deve mexer em 28% da área construída no perímetro. Os arquitetos do consórcio responsável pelo projeto de revitalização argumentam que a maior parte dos locais identificados como passíveis de desapropriação já estão vagos.
O consórcio ressalta, ainda, que pelo menos 89 prédios tombados do bairro serão reformados. A Secretaria de Desenvolvimento Urbano informou, por nota, que “este número pode oscilar e por conta disso não pode ser considerado definitivo” e que “o projeto está sendo aprimorado, contando inclusive com participação da comunidade local”.