Desapropriação e demolição dos imóveis da cracolândia devem custar R$ 1,1 bilhão – desse total, até R$ 621 milhões sairão dos cofres públicos
William Cardoso – O Estado de S.Paulo
A Prefeitura deve investir mais da metade dos cerca de R$ 1,1 bilhão previstos para desapropriação e demolição de imóveis da cracolândia, na região central da capital paulista. O secretário municipal de Desenvolvimento Urbano, Miguel Bucalem, participou ontem de audiência pública na Câmara sobre o projeto Nova Luz, que prevê gastos entre R$ 370 milhões e R$ 621 milhões para a administração municipal. A proposta foi criticada.
A estimativa de que a Prefeitura bancaria mais da metade do valor previsto na concessão urbanística do projeto Nova Luz levou a críticas. O vereador Chico Macena (PT) considerou o investimento público desproporcional. "É um absurdo a Prefeitura bancar R$ 600 milhões e a iniciativa privada os outros R$ 500 milhões. E a gente sabe também que não vai ficar só nisso, porque os valores das desapropriações estão subestimados. Vai virar uma guerra judicial", afirmou.
No relatório de viabilidade econômica, é ressaltado que a Prefeitura deverá se dedicar a estudos para reduzir a contrapartida, como a reforma de prédios já existentes. Segundo o documento, o Nova Luz é considerado um projeto de alto risco por possíveis investidores, principalmente pela insegurança jurídica.
O secretário Miguel Bucalem ressaltou que a proposta apresentada ontem na Câmara não é definitiva e que está aberta a modificações. "Ainda não foi consolidada. O projeto será finalizado em maio."
Questionada, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano disse que os números ainda não são representativos. Os valores definitivos só serão apresentados quando o projeto urbanístico for concluído e as fases de implementação, detalhadas.
Tumulto: O encontro na Câmara teve bate-boca e troca de acusações entre vereadores e manifestantes contrários ao projeto. A proposta da Prefeitura de renovar a cracolândia não seduziu os comerciantes e moradores da região, que manifestaram insatisfação com a falta de um documento oficial que dê garantias de que eles permanecerão no local após as obras.
Durante a audiência, um manifestante chamou os vereadores de "vendidos" e foi repreendido duramente por Cláudio Fonseca (PPS) e Roberto Tripoli (PV). Houve tumulto e a audiência foi interrompida por cerca de dez minutos, para ser retomada depois.