ELVIS PEREIRA
TIAGO DANTAS
A Vila Andrade, na zona sul, foi o distrito da capital que mais cresceu na última década. A população do bairro subiu cerca de 72% entre 2000 e 2010, saltando de 73.649 para 127.015, segundo números do Censo 2010 divulgados nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No período, o incremento na cidade foi de 7,8%, pouco mais de 10% do bairro da zona sul. O lançamento de imóveis residenciais na Vila Andrade, bairro vizinho ao Morumbi, e a criação de uma boa estrutura de serviços são apontados por urbanistas e moradores como explicações para o crescimento.
“Acredito que as pessoas estão vindo para cá por causa do custo-benefício”, afirma o bancário Duílio Magalhães, de 30 anos. Após dois meses de procura, ele comprou um apartamento no bairro, a poucos metros do Shopping Jardim Sul, e deixará a Vila Mariana, também na zona sul, onde mora de aluguel. “Aqui tem acesso para a Marginal (do Pinheiros), shopping e mercado.” Magalhães lembra que o condomínio será mais baixo e que pagou R$ 180 mil pelo imóvel. “Na Vila Mariana, um apartamento igual não sairia por menos de R$ 320 mil.”
Nos últimos dez anos, a Vila Andrade ganhou 15.781 apartamentos, segundo o Sindicato da Habitação do Estado de São Paulo (Secovi). A região passou a chamar a atenção do mercado imobiliário pela disponibilidade de áreas livres, já escassas no Morumbi. “As construtoras ainda compram terrenos mais baratos em relação ao Brooklin e ao Morumbi”, explicou o corretor imobiliário Dirceu Donado, que atua na região há 25 anos.
A especulação imobiliária é um dos principais motivadores de movimentos populacionais. “Isso é muito sintomático em São Paulo. Na Vila Andrade aconteceu isso. O mercado não encontra mais terreno no Morumbi e acaba comprando no bairro vizinho ( Vila Andrade), mas continua usando o nome do Morumbi para vender”, opina o analista socioeconômico do IBGE Jefferson Mariano.
A diferença, segundo o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie Luiz Guilherme Castro, é que boa parte dos empreendimentos da Vila Andrade é destinada à classe média. O pesquisador Ricardo Ojima, da Unicamp, lembra que o poder público também é responsável pelos movimentos populacionais ao direcionar investimentos.
Na outra ponta da tabela, a Vila Medeiros, na zona norte da capital, foi o distrito que mais perdeu moradores. Em 2000, o bairro possuía 140.564 habitantes. Ano passado foram contabilizados 129.919, uma redução de 7,57%. “É curioso. Aqui não é um lugar ruim”, disse o microempresário Reginaldo Machado, de 54 anos, morador do bairro há 20. “Não tem violência, o custo dos imóveis é compatível, tem transporte e estamos cercados de colégios.”
Próximo à Rodovia Fernão Dias, o bairro é formado predominantemente por casas. É raro avistar prédios nas ruas e avenidas. “De cinco anos para cá, é que começaram a construir alguns prédios”, contou o aposentado Odail Gallo, de 71 anos, que mora ali desde 1964. “Problema aqui? Enchente não dá. Luz e água não faltam. E aqui é sossegado”, resumiu.