“89% dos paulistanos desrespeitam faixa de pedestre. Mas acreditam estar certos” – O Estado de S.Paulo

 

Renato Machado e Vitor Hugo Brandalise – O Estado de S.Paulo

O trânsito de São Paulo é um exemplo de caso em que discurso e prática não caminham juntos. Quando questionados se respeitam a prioridade dos pedestres, 76,8% dos motoristas disseram que param nos cruzamentos para esperar a travessia. O detalhe é que, momentos antes, 89,6% do total desses mesmos entrevistados se comportaram da maneira oposta e haviam cometido infrações que colocaram em risco os pedestres na faixa.
Os dados fazem parte de um estudo da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) que analisou o comportamento dos motoristas em movimentados cruzamentos do centro da capital. Foram registradas 675 situações em que houve "conflito" entre os pedestres e os automóveis e qual foi a decisão tomada pelo condutor do veículo.

Mais do que dissimulação dos motoristas, os números podem indicar uma grande falha na formação dos condutores. "Como é mal ensinado, pode ser um desconhecimento total da regra. É um hábito tão antigo (não esperar a travessia de pedestres) que os motoristas não percebem mais que fizeram errado", diz o gerente de Educação no Trânsito da CET e coordenador do estudo, Luiz Carlos Néspoli.

Se as respostas dos motoristas mostraram um distanciamento da realidade, os pedestres pareceram estar mais conscientes: 69,5% disseram sentir-se desrespeitados sobre a faixa de segurança de alguma forma. Os comportamentos mais comuns dos motoristas foram acelerar o automóvel, buzinar ou ameaçar.

Um exemplo de cruzamento altamente desrespeitado pelos motoristas é o formado pelas Ruas Quintino Bocaiuva e Riachuelo, perto da Praça da Sé. O entroncamento é no formato da letra Y e há três faixas de pedestre. Em duas delas, mais de 90% dos motoristas desrespeitam a faixa. Aos pedestres, resta atravessar a rua quando o trânsito para, no meio dos carros, ou na saída do Viaduto Dona Paulina.

Risco. "É a única forma de passar. Esperar o semáforo fechar ou desviar do trânsito congestionado. Se você está na faixa e tem alguém vindo, eles buzinam, às vezes até aceleram. Um desrespeito total", disse a comerciante Maria de Jesus Bispo, de 52 anos, que tentava na tarde de sexta-feira atravessar a Quintino Bocaiuva levando a neta de 3 meses no carrinho de bebê.

Outro problema para os pedestres é que 31,7% dos motoristas não sinalizam com seta quando vão fazer uma conversão – o que deveria acontecer sempre. O desrespeito é maior quando o veículo está em uma avenida de maior movimento e vira em uma mais tranquila – o cumprimento é quase total na situação inversa. Os motivos alegados são: estar perto de casa (21,3%), distração (18,9%), o local não ser movimentado (18,6%), ser noite (11,6%) ou ter pressa (6,3%).

 

Cruzamentos pesquisados

– Rua Francisca Miquelina X Rua Dona Maria Paula

– Rua Riachuelo X Rua Quintino Bocaiuva

– Rua Haddock Lobo X Rua Luís Coelho

– Rua Alvaro de Carvalho X Rua João Adolfo X Rua Alfredo Gaglioti

– Rua da Consolação X Rua Maria Antônia X Rua Caio Prado X Rua Cesário Mota Júnior

– Avenida Paulista X Rua Augusta

– Avenida Rio Branco X Rua Aurora

– Avenida Vergueiro X Rua Pedroso, Rua Parapitigui e Siqueira Campos

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