Lideranças do bairro, situado na região do Jardim São Luís, dizem que basta chover forte para a rua ao lado da escola ficar inundada e a tampa do bueiro virar um chafariz
Airton Goes airton@isps.org.br
Vizinhos, alunos, professores e funcionários da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Professor Airton Arantes Ribeiro do Conjunto Promorar vivem torcendo para não chover forte na região, localizada no Distrito do Jardim São Luís, na zona sul de São Paulo. A torcida se justifica, pois toda vez que isso ocorre a Rua Maporé, que fica ao lado da escola, é inundada. E, para agravar o problema, o encanamento de esgoto que passa embaixo da via não resiste à pressão da água, transformando a tampa do bueiro existente no local em um “chafariz” – na descrição dos moradores.
A mistura da água da chuva com os detritos de esgoto, provocada pelas enchentes, tem infernizado a vida do bairro há bastante tempo. “O problema começou por volta de 2003 e piorou nos últimos quatro anos”, conta Maria Cicera Mineiro da Silva, líder comunitária que integra o Movimento de Mulheres na Luta pela Dignidade.
Desde então, os moradores e suas entidades têm se mobilizado para reivindicar do poder público uma solução. “Já fizemos panelaço, abaixo-assinado, reclamações na subprefeitura [do M´Boi Mirim]… e até agora nada”, lamenta Cicera.
Segundo ela e outras lideranças locais, a demora para resolver a situação se deve a um “jogo de empurra”, que envolve a Subprefeitura do M´Boi Mirim, a Sabesp e a Secretaria Municipal de Infraestrura Urbana e Obras. “Um empurra para o outro o problema e ninguém resolve”, afirmam.
Embora todos considerem que as enchentes e o esgoto estão entre as principais preocupações atuais do bairro, para os alunos, professores e funcionários da EMEF Professor Airton Arantes Ribeiro a situação já foi pior. “Antes, quando a escola ficava um pouquinho mais para baixo, o esgoto estourava dentro do pátio”, conta Maria do Carmo Godoy, coordenadora pedagógica do equipamento. “Imagine o esgoto aflorar dentro do pátio de uma escola?”, reforça.
Com a mudança de local da escola, agora os problemas da enchente e do esgoto se localizam em frente à entrada e saída do estacionamento da escola.
Maria do Carmo diz que a EMEF tem procurado ser parceira na tentativa de solucionar os problemas da comunidade, entre os quais também relaciona as inundações frequentes na Rua Maporé. “Há dois meses uma moradora foi arrastada pela correnteza”, relata, antes de acrescentar: “Felizmente, a pessoa não morreu”.
Um dos frutos desta parceria com a comunidade é o Programa Plantando Cidadania, desenvolvido nas escolas do bairro pelo Instituto SOS Mata Atlântica. “É um programa de educação ambiental que visa envolver também os moradores”, explica Belloyanis Monteiro, coordenador de mobilização da organização defensora do meio ambiente.
Bellô, como é conhecido, explica que a falta de soluções para a questão do esgoto e as inundações na região prejudica até o trabalho desenvolvido pelo Programa Plantando Cidadania. “Como vamos falar a uma criança sobre a importância da questão ambiental, para não jogar lixo na rua, se ao lado da casa ou da escola dela tem um esgoto que aflora quando chove e o poder público não resolve?”
A quantidade de lixo jogado em locais “viciados” do bairro é outro grave problema da região. Como esgoto e lixo estão relacionados à saúde das pessoas, esta área integra o conjunto de dificuldades que os moradores enfrentam. De acordo com relatos das lideranças, embora existam um hospital e um AMA próximos do bairro (hospital e AMA do Campo Limpo), faltam médicos especialistas para atender a população, entre os quais fonoaudiólogos, psicólogos e oftalmologistas.
Além de Cicera, Maria do Carmo e Bellô, também participaram da conversa com a reportagem sobre os problemas do bairro: Gelson José da Silva Araujo, da Associação dos Moradores do Conjunto Promorar São Luís Visão e Ação, Lucijane Maria Bastos, presidente da Associação dos Moradores da Nova União do Jardim São Luís, Sueli Albuquerque, assistente de diretor da EMEF Professor Airton Arantes Ribeiro, Valéria de Almeida Lima, moradora da região e funcionária da escola e Vanessa Alves da Silva, moradora e integrante do Movimento de Mulheres na Luta pela Dignidade.
Após a conversa com lideranças e moradores do Conjunto Promorar, a reportagem procurou a Subprefeitura do M’Boi Mirim para ouvir o que o poder público tem a dizer sobre o assunto, mas não obteve retorno.