Prédio será o 1º a usar artigo da Lei Cidade Limpa que permite o uso de publicidade para financiar recuperação
Obra começou há dois meses, mas só agora foi dada autorização para a instalação de anúncio de uma loja de calçados
SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO
Em breve, a cidade de São Paulo deverá quebrar o jejum de publicidade nas ruas que começou há quase cinco anos, quando o Cidade Limpa varreu os outdoors da paisagem paulistana. Um anúncio vai estampar a fachada do edifício Guinle, no centro, durante obras de restauro.
Desenho do arquiteto Hyppolito Gustavo Pujol Júnior, o prédio de sete andares construído em 1913 será o primeiro a usar o artigo 50 da Lei Cidade Limpa, que permite o uso de publicidade para financiar restauros em imóveis de interesse histórico.
"Esperamos a cidade se organizar de novo para propor novos valores ao mercado publicitário", diz Regina Monteiro, diretora da SP Urbanismo, responsável pelo Cidade Limpa.
Operários começaram os retoques no prédio da rua Direita há dois meses, mas só agora obtiveram autorização do Departamento de Patrimônio Histórico para instalar o anúncio da Mundial, loja de calçados no térreo do edifício que está financiando a obra, orçada em R$ 700 mil.
Com base em decisão tomada ontem no Conpresp, órgão municipal de preservação do patrimônio, o Guinle passou à frente de outros dois prédios icônicos de São Paulo que tentam usar o mesmo recurso para restaurar suas fachadas: o Copan, de Oscar Niemeyer, no centro, e o Bretagne, de Artacho Jurado, em Higienópolis.
Mas falta definir melhor os parâmetros da aplicação da lei, já que o Copan, por exemplo, esbarrou na burocracia, em especial em relação ao tamanho do anúncio, ao tentar um acordo com a prefeitura.
Enquanto São Paulo estreia agora o recurso da publicidade para bancar restauros, a exemplo do que ocorre em Barcelona, que proibiu os outdoors nos anos 1990, cidades europeias como Roma e Veneza começaram a combater até mesmo anúncios para a preservação.