Combustível com menos enxofre deveria ser distribuído desde 2009, mas houve atraso; Petrobrás e montadoras garantem o abastecimento
Afra Balazina – O Estado de S.Paulo
Os postos de combustível podem atrapalhar os planos de o País ter um diesel menos poluente em 2012. Um acordo entre o Ministério Público Federal com a Petrobrás, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) e as montadoras foi firmado em 2008 para oferecer o diesel com 50 partes por milhão (ppm) de enxofre e motores adaptados a esse combustível mais limpo a partir de 2012.
O problema é que os postos não fizeram parte desse acordo. Ricardo Hanashiro, diretor da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis), diz que a adesão dos postos é "voluntária".
"Alguns postos podem querer esperar mais (para vender o diesel limpo). E eles não poderão sofrer punição ou sanção porque não é sua obrigação vender determinado produto", explica.
De acordo com José Alberto Paiva Gouveia, presidente do Sincopetro, o sindicato de revendedores de combustíveis, os postos até agora "não foram chamados" para discutir a questão. "Para nós é um problema sério. Quem vai bancar o investimento? Você colocar isso em São Paulo, por exemplo, é uma coisa, agora colocar na Região Norte é mais complicado."
Por outro lado, Hanashiro acredita que muitos postos terão interesse na venda para não perder clientes. "Se eu não vender, o consumidor vai achar quem venda."
Com o novo diesel, chamado de S-50, os postos terão de oferecer também uma solução aquosa com 32% de ureia – a Arla 32. A solução é necessária para o funcionamento do motor que usa o novo combustível.
Mas estima-se que a oferta hoje de ureia no País seja insuficiente – ela é usada também para produção de fertilizantes – e teria de ser importada. Esse é outro problema que precisará ser equacionado. "As coisas estão caminhando. Mas não será algo perfeito no início. Pode haver algum estresse", afirma Hanashiro.
Incertezas. Para evitar danos ao motor, os veículos novos só poderão usar o diesel mais limpo. Mas os proprietários de veículos antigos, se quiserem, poderão usar o diesel com mais enxofre.
Os postos poderiam usar bombas já existentes para colocar o diesel menos poluente. "Nos postos da cidade que só têm um tanque de diesel, como vamos fazer?", indaga Gouveia.
Nem a indústria automobilística parece estar 100% segura de que o abastecimento será eficiente. Algumas empresas têm tentado fazer motores que aceitem também o diesel sujo.
Gilberto Leal, da Mercedes-Benz, afirmou, durante evento da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva, que tem usado o motor novo com diesel com 500 partes por milhão de enxofre. O equipamento não é capaz de suportar indefinidamente esse combustível mais poluente, mas já foi testado com ele por 2 mil horas até agora.
PARA ENTENDER
O diesel S-50 deveria ter entrado no mercado em 2009. A Petrobrás e as montadoras alegaram não ter tido tempo hábil e firmaram um acordo postergando a oferta do diesel limpo. Agora, montadoras e Petrobrás garantem que os motores adaptados e o diesel S-50 estarão no mercado. Até 2008, regiões metropolitanas recebiam um diesel com 500 partes por milhão (ppm) de enxofre e, no interior, o diesel com 2 mil ppm.