Painel da Conferência Internacional de Cidades Inovadoras (CICI2011) discute legado social da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016 no Brasil.
Nesta quarta-feira (18/5), o legado social da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016, que serão realizadas no Brasil, foi tema do painel “Jogos Limpos Dentro e Fora do Campo: Estratégias Articuladas para os Investimentos de Megaeventos no Brasil”, na Conferência Internacional de Cidades Inovadoras (CICI2011), realizada em Curitiba (PR).
Liderado pelo Instituto Ethos, com apoio da Siemens Integrity Initiative, o projeto Jogos Limpos Dentro e Fora dos Estádios busca maior transparência nos investimentos públicos tanto para o Mundial de Futebol quanto para os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos.
Durante o evento, Felipe Saboya, do Instituto Ethos, que é coordenador de mobilização do projeto, ressaltou o quanto a transparência, a integridade e o controle dos recursos investidos – o tripé do programa – dependem da capacidade de organização e mobilização da sociedade como um todo. “Nossa democracia ainda é jovem e se manifesta com mais intensidade em períodos eleitorais. Mas a verdadeira demonstração da democracia deve ser dada no acompanhamento constante dos investimentos públicos realizados no país, em especial em momentos como estes”, afirmou.
A gestão do projeto Jogos Limpos é feita por um comitê nacional e por cinco comitês regionais e 12 locais, que devem atuar nas 12 cidades-sede da Copa. Na CICI2011, algumas das organizações envolvidas no projeto se reuniram para planejar uma plataforma comum de ações. “Identificamos agendas convergentes em nossa rede de parceiros. Então decidimos construir caminhos para aumentar a sinergia dessas iniciativas e abrigá-las sob o grande guarda-chuva que é o legado social das obras”, disse Saboya.
Para Gláucia Barros, da Fundacão Avina, da Articulação Brasileira de Combate à Corrupção e à Impunidade (Abracci) e da Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis, é preciso agregar uma nova dimensão ao sentimento de orgulho por sediar uma Copa: “É necessário acrescentar a dimensão participativa, para olhar o interesse público de forma mais responsável”, diz ela.
Por isso, entre as propostas do grupo, uma das mais relevantes é ampliar o arco de alianças, aproximando-se de comitês populares, por exemplo. “Há localidades que estão sendo violentadas por desapropriações e precisam de um canal de diálogo”, afirma Gláucia.
Falta discussão
A representante da Avina argumenta que as cidades-sede já têm planejamentos de obras e convênios a serem celebrados, mas não têm necessariamente conhecimento dos impactos perenes que os investimentos trarão: “Em Minas Gerais, por exemplo, há obras sendo tocadas sem nenhuma discussão com a sociedade e cujos riscos sociais e ambientais estão sendo minimizados”. Gláucia lembra que a emoção associada ao futebol pode agravar a negligência que, culturalmente, nos guia em relação aos investimentos públicos.
De acordo com os princípios celebrados pelo projeto Jogos Limpos, o Brasil tem condições de viver uma experiência diferente das dos países que já sediaram esses megaeventos. Para isso, é necessário articular estratégias e iniciativas que facilitem a participação social. Victor Barau, representante da Atletas pela Cidadania, outra organização parceira do Ethos no projeto, Copa e Olimpíadas não são pontos de chegada, mas de partida. “Precisamos usar esses eventos para garantir uma vida melhor para a população, pensando à frente, em um horizonte mais amplo”, disse.
Victor também apresentou metas da ONG que representa: até 2016, a organização irá fomentar a prática educacional do esporte em 80% das escolas públicas das cidades-sede e construir indicadores para monitorar os avanços do esporte no país e, depois, uma Política Nacional de Esportes.
Adesão da sociedade
Para Felipe Saboya, do Ethos, uma das formas de ampliar o diálogo nacional em torno dos jogos, do ponto de vista dos gastos, é promover seminários, como a CICI2011, e também publicar instrumentos, como manuais para entender contratos e licitações, que serão lançados pelo projeto. Quanto à adesão da sociedade, Saboya afirmou que uma das metas do Jogos Limpos é desenvolver a cultura participativa no Brasil. “Saber que obra do Maracanã estourou em R$ 1 bilhão sua previsão de custos deveria ser suficiente para mobilizar a população”, exemplifica.
O foco do projeto, agora, se concentra nas 64 cidades brasileiras que deverão estar aptas para receber as 32 seleções de futebol que virão ao país. “Centenas de cidades vão se candidatar e é esse tipo de relação público-privada que o projeto deve monitorar”, disse Saboya.
Por Denise Ribeiro, para o Instituto Ethos