“Devagar quase parando” – Folha de S.Paulo

 

Tempo para percorrer a avenida Paulista de ônibus, com trânsito, é semelhante ao que um pedestre leva para percorrer mesma distância

RICARDO GALLO
DE SÃO PAULO

Não fosse o salto alto, a assistente de atendimento Alline Ewbank, 24, pensaria seriamente em andar a pé e deixar o ônibus de lado. Só no trânsito da avenida Paulista, ela passa de 30 a 40 minutos da viagem de uma hora e dez minutos que faz diariamente até o ABC, onde mora.

Ontem, para matar o tempo, Aline lia sobre meditação na internet de seu celular.

A velocidade dos ônibus na Paulista é a menor entre as vias medidas pela SPTrans, responsável por gerenciar o transporte coletivo na cidade de São Paulo.

Às 19h de ontem, atravessar a avenida no sentido Consolação levava 28 minutos, um a menos do que o mesmo trajeto feito a pé.

Em abril, a velocidade média no pico da noite na avenida foi de 8 km/h, pouco mais do que o de uma caminhada.

A média dos corredores da cidade é de 20 km/h -o ideal é andar entre 20 km/h e 25 km/h, segundo especialistas. A Paulista passa longe disso: em abril, os ônibus andavam no máximo a 13 km/h no trecho, diz a SPTrans.

A avenida, vale dizer, não é um corredor exclusivo de ônibus. Nela também se concentram táxis, carros-fortes e automóveis que estacionam nos prédios comerciais.

Há, ainda, 31 semáforos nos 3 km da via, o que aumenta a lentidão dos ônibus, na faixa da direita.

"Tem dias em que até pedestre anda mais rápido", atesta o motorista Eliel de Lima, 41, da linha Vila Anastácio-Metrô Paraíso, que passa até meia hora na Paulista.

Ele dá voz a uma reclamação comum: o trecho da avenida Paulista trava o fluxo dos coletivos que têm de passar ali. O maior prejuízo, segundo a SP Urbanuss, sindicato das empresas de ônibus, é com a pontualidade.

Nos períodos de maior movimento, não é preciso ter pressa para tomar o ônibus. A pé, é possível alcançá-lo, tamanha a lentidão.

PRIORIDADE

Para Horácio Figueira, consultor de trânsito, a prefeitura deveria dar prioridade aos ônibus com a criação de um corredor exclusivo na faixa da esquerda, ainda que à custa de reduzir a largura das faixas da avenida.

Outra solução seriam semáforos sincronizados por radiofrequência com os ônibus, o que diminuiria as paradas dos coletivos em sinais vermelhos.

Ele fez um levantamento segundo o qual os automóveis levam cerca de 5.000 pessoas por hora em três faixas da Paulista. No mesmo tempo, na faixa usada pelos ônibus, são carregados 10 mil.

Por ora, a prefeitura estuda reduzir as linhas que passam na Paulista para fazer andar os demais ônibus. Pelo local passam 29 linhas, que transportam 340 mil pessoas por dia. A SPTrans não disse quando adotará a medida.

Para Jaime Waisman, professor da USP e consultor, a ideia é adequada. Ele critica, no entanto, o adensamento da região: está em construção na via um shopping, no terreno da antiga mansão dos Matarazzo, que despejará 1.090 veículos a mais na avenida a cada hora, segundo dados da CET.

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