O bairro de Perus ainda aguarda parque linear que será feito com verba da venda de créditos de carbono
EDUARDO GERAQUE
DE SÃO PAULO
Principal investimento da prefeitura com a verba da venda de créditos de carbono, o bairro de Perus (zona norte de São Paulo) ainda não usufrui da transformação ambiental que a chamada "moeda verde" prometia para o local a partir de 2007.
O projeto no bairro é uma das principais bandeiras da área ambiental da gestão do prefeito Gilberto Kassab.
E será apresentado como um caso de sucesso na C40 Summit, reunião internacional sobre sustentabilidade, que começa amanhã, em São Paulo, e contará com a presença de 17 prefeitos de grandes cidades do mundo.
Mas o projeto que será apresentado por São Paulo está, na realidade, sendo implantado de forma "lenta" ou "pulverizada", segundo líderes comunitários de Perus.
Basta percorrer as ruas centrais do bairro para ver que o parque linear prometido ainda não saiu do papel.
E que os problemas ambientais, como o córrego poluído e sem mata ciliar da região, continuam presentes.
"Nós temos algumas pracinhas [feitas com a moeda verde]", afirma Paulo Rodrigues, presidente do Instituto de Ferrovias e Preservação do Patrimônio Cultural e morador do bairro de Perus.
"Mas o que está sendo feito aqui, é o que todo morador de São Paulo, que paga imposto, tem direito. Não houve algo que realmente fizesse o desenvolvimento sustentável de Perus", diz Rodrigues.
Para Mario Bortoto, do Fórum de Desenvolvimento local Perus-Anhanguera, a oportunidade também poderia ser melhor aproveitada.
Dos R$ 70 milhões arrecadados pela prefeitura com a venda dos créditos (entenda como é feita a comercialização acima), R$ 57 milhões estão sendo destinados exclusivamente para a região.
O investimento é uma espécie de compensação: por quase três décadas a população local conviveu com a poluição gerada pelo aterro sanitário Bandeirantes.
Hoje, todo o gás metano que sai do aterro é canalizado e desviado para a geração de energia elétrica (veja o processo no gráfico acima).
O resto da verba arrecadada com a venda dos créditos de carbono será destinada para o entorno do aterro São João, em São Mateus (zona leste), onde o metano também está virando energia.
SEM PREVISÃO
Especialistas ouvidos pela Folha atribuem o ritmo lento na aplicação do dinheiro do crédito à demora gerada pelas desapropriações, o que é é considerado normal.
A Prefeitura de São Paulo não diz quando o parque linear em Perus ficará pronto, mas afirma que está investido o dinheiro dos créditos de carbono em várias frentes.
Segundo o secretário Eduardo Jorge (Meio Ambiente), as desapropriações para o parque já foram feitas.
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