ANÁLISE SABATINA
Fleuma com que o prefeito fugiu de embates contrasta com vídeo de 2007
NOTA 10 A QUE KASSAB DIZ FAZER JUS DIFERE DO 4,6 QUE POPULAÇÃO CONFERIU À GESTÃO PELO MAIS RECENTE DATAFOLHA
VERA MAGALHÃES
DE SÃO PAULO
Nem a exibição, em telões, da imagem de 2007 em que, colérico, expulsou um homem de um posto de saúde aos gritos de "Vagabundo! Respeita doente!" foi capaz de alterar a calma inabalável com que Gilberto Kassab enfrentou as duas horas da sabatina Folha/UOL.
Com o mesmo semblante impassível, elogiou de Lula a José Serra, passando por seus desafetos Geraldo Alckmin e Gabriel Chalita, negou um entrevero com Rodrigo Garcia que sua própria assessoria tratara de confirmar na semana passada e transformou "metas" em "compromissos" e depois nem isso.
Pediu desculpas pelo "vagabundo", disse que nunca fumou maconha e que não tem pretensão política além de governar São Paulo.
Seria a imagem da humildade, não fosse a nota que deu à própria gestão: "dez". E a justificativa: pelo esforço.
Acontece que a autoavaliação de Kassab não bate com aquela que a população expressa do governo: a última pesquisa Datafolha conferiu média 4,6 à sua gestão. Mais: 43% consideravam a gestão ruim ou péssima em março, contra 29% que a avaliavam como ótima ou boa.
Diante de todos os problemas apontados na sabatina, de transporte a enchentes, passando por cracolândia e saúde, Kassab repetia um mantra: "Melhorou muito". A ponto de um internauta comentar no Twitter: "A São Paulo de Kassab fica numa realidade paralela".
No script otimista que traçou para a sabatina, o prefeito tratou de relativizar o Plano de Metas que ele próprio estabeleceu. Diante do percentual de 95% das propostas não executadas, saiu-se com uma metáfora à la Lula: se você se propõe a reformar a casa, mas um filho adoece, você adia a reforma.
Numa versão polida do "vagabundo", disse que "maus brasileiros" são culpados, em parte, pela sujeira da cidade, por jogarem lixo na rua fora dos horários e locais apropriados.
E diante da proposta mais controvertida que esboçou -a de adotar alguma forma de coerção para tirar usuários de crack das ruas-, pisou no freio e foi vago para evitar polêmica.