Prefeitura faz contrato de R$ 88,4 milhões para dobrar retirada de resíduos das ruas
Diego Zanchetta e Rodrigo Burgarelli – O Estado de S.Paulo
A Prefeitura de São Paulo vai finalmente começar a reciclar o entulho de obras e da construção civil. Orçado em R$ 88,4 milhões, um novo contrato colocado ontem em consulta pública vai dobrar o volume de resíduos sólidos retirado das ruas da cidade e de obras públicas.
A medida do governo municipal visa a acabar com os atuais contratos emergenciais de 2006, de R$ 30 milhões por ano, e atende à Política Nacional de Resíduos Sólidos, aprovada no ano passado, ao implementar as centrais de triagem e reciclagem nos aterros. Ainda não há prazo definido para a licitação.
Hoje as quatro empresas responsáveis pelo serviço recebem até 78 mil toneladas de resíduos sólidos recolhidos mensalmente por empresas de caçamba credenciadas, dos 42 ecopontos e de obras dos governos municipal e estadual – todo o volume é hoje enterrado em aterros localizados na capital, o que é condenado por ambientalistas, principalmente pelo alto valor agregado desse tipo de material.
"O entulho reciclado é melhor para a construção civil do que a própria matéria-prima, porque ele já possui cimento e dá mais liga. É um absurdo São Paulo não ter esse serviço até hoje", disse Nina Orlow, integrante do Grupo de Trabalho de Meio Ambiente da Rede Nossa São Paulo. Com o novo contrato, serão levadas para os aterros até 156 mil toneladas de entulhos por mês.
O edital determina que pelo menos 10% de todo o entulho seja reciclado, mas a expectativa é de que a empresa vencedora acabe reciclando bem mais do que isso, por causa dos lucros que pode retirar com a venda dos materiais. Os recicláveis que não forem reutilizados deverão ser aterrados de maneira que, futuramente, possam ser retirados e levados às centrais de reciclagem.
Divisão. O contrato vai dividir a cidade em três regiões e uma empresa diferente ganhará cada lote. Cada uma delas terá de construir um aterro provisório na sua região, uma central de triagem para separar o entulho bom e o rejeito e uma usina de reciclagem que possa processar até 30 toneladas de resíduos por hora.
Apesar de ser coibido desde o ano passado com cadeia ou multa de R$ 10 mil, o descarte irregular de entulho, considerado o principal vilão das enchentes que atingem a cidade, continua sendo feito em São Paulo às margens de córregos, do Rio Tietê e em terrenos baldios na periferia. A Serra da Cantareira é outro alvo de caçambeiros clandestinos que querem escapar das taxas dos aterros autorizados pela Prefeitura. Ao todo, a cidade tem cerca de 1.500 pontos viciados, onde é feito o descarte ilegal de entulho, segundo mapeamento da administração municipal.
Com o novo contrato, o governo quer garantir, por exemplo, a retirada de toneladas de entulho que serão produzidas por grandes obras públicas previstas para 2012, como a construção de um túnel de 2,4 km até a Rodovia dos Imigrantes e de 150 novas escolas de ensino infantil.
Os resíduos recicláveis são de dois tipos: entulhos de construção, demolição, reforma e reparados, como telhas, concreto, tijolos, argamassa e blocos, e resíduos recicláveis, como plástico, papel, vidro e metais. A consulta pública aberta ontem diz que a empresa contratada também será responsável pela reciclagem, mas não foi especificado como e quem vai ficar com o montante arrecadado com a venda desse material.
Fora de SP. A licitação autoriza empresas a manter aterros em outras cidades da Região Metropolitana de São Paulo. Mas a distância mínima das regiões atendidas deve ser de seis quilômetros. As quatro empresas responsáveis hoje por recolher entulho – Qualix, Marquise, Iudice e Essencis – poderão participar da concorrência.
Desperdício
18 mil
toneladas de resíduos sólidos são recolhidas todos os dias das ruas da capital, incluindo lixo doméstico, hospitalar e de entulho
35%
do total recolhido de resíduos
sólidos poderia hoje ser reciclado na capital, segundo estimativas de empresas de limpeza urbana
1%
é, no entanto, o montante hoje reciclado em São Paulo
1
casa é jogada fora a cada três outras construídas em São Paulo, por causa do desperdício dos
entulhos que poderiam ser reciclados, segundo estudo do consultor da ONU na capital
Sabetai Calderoni