Problemas aumentam quando secura chega a níveis próximos de 10%; desde segunda-feira, índices em SP ficaram abaixo de 30%
Paulo Saldaña – O Estado de S.Paulo
O ar seco de São Paulo, fator que se agrava no inverno, representa risco real à saúde. Análise feita a partir da onda de secura registrada em agosto de 2010 mostra que a baixa umidade do ar pode triplicar o risco de morte.
É a primeira vez que se consegue dimensionar a exata influência da baixa umidade relativa do ar na saúde. "A umidade relativa apareceu como principal variável nos problemas de saúde", afirma a meteorologista Micheline Coelho, que realiza estudo na Faculdade de Medicina da USP.
O risco de morte, de acordo com a pesquisa, aumentou de 0,26% para 0,64% quando a umidade relativa variou de 100% para níveis próximos de 10%.
No estudo foram analisadas 1.252 autópsias feitas em agosto de 2010 pelo Serviço de Verificação de Óbitos da capital. Desse total, 17,7% das mortes – 212 pessoas – foram provocadas por doenças respiratórias, o escopo analisado. A maioria das vítimas é de idosos, segundo a autora.
O estudo foi realizado com dados de agosto de 2010 por se tratar de um evento extremo vivido na cidade. Foi o mês mais seco desde 1961, quando as medições de umidade do ar começaram. A cidade enfrentou uma sequência de 11 dias com umidade abaixo de 20% e com picos de 12% – a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera seguro níveis acima de 60%. De acordo com Micheline, os efeitos na saúde são medidos pela sequência de dias nessas condições. "Esses eventos extremos tendem a se repetir com as mudanças climáticas. E não estamos preparados."
Planos. Os limites definidos pela OMS são usados pela Defesa Civil para decretar os estados de atenção, alerta e emergência. Mas, assim como ocorre com a poluição, as medidas se restringem a orientações, como evitar aglomerações ou exercícios ao ar livre. Há um Plano de Contingência para Situações de Baixa Umidade, elaborado em 2008, mas ele é vago. A Prefeitura fala em restrição de atividades físicas e de aulas, mas não cita endurecimento do rodízio de veículos, por exemplo. No ano passado, mesmo com um ar desértico, não houve nenhuma medida mais contundente – como ocorre em outros países (veja acima).
A umidade relativa do ar é a relação entre a capacidade que o ar tem de reter vapor de água e a quantidade que ele, de fato, absorve. No organismo, essa condição favorece doenças respiratórias e agrava alergias. Quem mais sofre são crianças e idosos.
Neste ano, já em maio houve registros de baixa umidade em vários dias, com níveis abaixo de 60%. Desde segunda-feira, os níveis baixaram a menos de 30%, colocando a cidade em estado de atenção. Há 20 dias sem chuva, a camada de poluição tem se intensificado. Os índices pioraram e a qualidade do ar ficou inadequada durante a semana.
"Períodos de estiagem mais prolongados, menos ventilação e dias com bastante insolação colaboram para o aumento de ozônio e material particulado", explica a gerente da Divisão de Qualidade do Ar da Cetesb, Maria Helena Martins. Com a chegada de uma frente fria, as condições devem melhorar hoje.
LÁ TEM…
Santiago (Chile)
Sistema acompanha entradas em hospitais e cria índice que é cruzado com a qualidade do ar. Além de ampliar o rodízio, proíbe o funcionamento de fábricas
Xangai (China)
Amplia rodízio em dias críticos e distribui máscaras. Governo ainda controla número de veículos, sobretaxando emplacamentos
Cidade do México
Rodízio de veículos é ampliado por semana – assim, um final de placa não pode trafegar em dois ou até três dias da semana