Ao contrário do ocorrido no século passado, grandes metrópoles deixam de receber pessoas de outras regiões
Desenvolvimento econômico de áreas mais pobres ajudam a explicar novos fluxos migratórios no Brasil
ANTONIO GOIS
DO RIO
A história dos fluxos migratórios no Brasil foi marcada, no século passado, pela imagem dos nordestinos em busca de melhor sorte nas metrópoles do Sudeste, especialmente Rio e São Paulo.
Agora, estudo divulgado ontem pelo IBGE mostra que a dinâmica mudou. Na década passada, foram as cidades de médio e pequeno porte de todas as regiões do país que mais atraíram população.
De 2000 a 2010, 444 municípios (8% do total) tiveram alto crescimento populacional, com taxas anuais superiores a 3%. Nenhum tinha mais de 500 mil habitantes.
O surgimento de mais cidades com capacidade de atrair população em todo o território nacional contribuiu para a diminuição do número de pessoas que migram de uma região para outra. De 1995 a 2000, 3,3 milhões fizeram tal movimento. De 2004 a 2009, foram 2 milhões.
"À medida que as atividades econômicas ficam mais espalhadas pelo país, com áreas mais atrasadas registrando maior desenvolvimento, uma parcela crescente da população deixa de migrar para as grandes metrópoles", afirma Antônio Tadeu Oliveira, um dos autores do estudo do IBGE.
O crescente dinamismo econômico em áreas menos desenvolvidas pode ser comprovado também pelo crescimento da renda domiciliar per capita. Foram as cidades do Nordeste as que registraram maiores aumentos, enquanto muitas do Sudeste tiveram queda ou estagnação.
São Paulo, por exemplo, "exporta" mais gente para outras unidades da federação do que vice-versa.
De 2004 a 2009, o saldo migratório do Estado foi negativo em 53 mil pessoas.
Oliveira diz que melhores condições de estradas e o movimento de interiorização de universidades ajudam a criar polos regionais de atração populacional.
A pesquisadora Rosana Baeninger, do Núcleo de Estudos Populacionais da Unicamp, afirma que o processo de urbanização generalizado do país também contribuiu para a diminuição do número de pessoas que fazem grandes deslocamentos.
Manaus (AM) está entre as cidades com mais de um milhão de habitantes que mais cresceu. No grupo de cidades entre 500 mil até um milhão, despontam, entre outras, João Pessoa (PB), Joinville (SC) e Ribeirão Preto (SP).
Mas é no conjunto de cidades com menos de 500 mil habitantes onde se verificam taxas altíssimas de crescimento. A população do município baiano de Luís Eduardo Magalhães, por exemplo, viu sua população mais que triplicar na década, saltando de 19 mil para 60 mil.
Há também municípios que formam áreas de grande atração populacional. É o caso de cidades litorâneas do Rio em áreas de exploração do Petróleo, como Rio das Ostras (crescimento de 190%), Maricá (66%), Macaé (56%) e Cabo Frio (47%).