Após rompimento com aliado, Agnaldo Timóteo relata suposto esquema em feira de ambulantes e cita Valdemar
Administrador da feira e deputado negam a cobrança de propina; vereador paulistano se recusa a falar do caso
VERA MAGALHÃES
DANIELA LIMA
DE SÃO PAULO
O vereador Agnaldo Timóteo (PR) mandou carta em papel timbrado da Câmara Municipal de São Paulo a um antigo aliado em que menciona cobrança de propina por "oportunistas" de seu partido e cita o deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP).
Na carta, Timóteo se explica por ter demitido de seu gabinete a filha de Geraldo de Souza Amorim, a quem diz ter "levado" a reuniões com o prefeito Gilberto Kassab e o ex-ministro Alfredo Nascimento (Transportes), do PR.
"Você se lembra, Geraldo, que os oportunistas do meu partido te exigiram R$ 300.000,00 mensais? E eu pergunto: te pedi alguma coisa para levá-lo ao nosso ministro? Pedi alguma coisa para levá-lo à mesa do prefeito Kassab?", diz a carta, que foi registrada e teve firma reconhecida pelo 3º Tabelião de Notas de São Paulo.
Geraldo de Souza Amorim era sócio da GSA, empresa que em 2004 obteve da RFFSA (Rede Ferroviária Federal) autorização para instalar, em terreno da antiga estatal, a Feira da Madrugada, que reúne ambulantes no bairro do Pari (centro de SP).
A carta de Agnaldo Timóteo é a base de representação protocolada ontem no Ministério Público Federal em São Paulo pelo deputado Ivan Valente (PSOL-SP).
Ele pede a investigação de supostas práticas de improbidade administrativa, cobrança de propina e enriquecimento ilícito por parte de políticos do PR e de grupos rivais de comerciantes da feira.
A GSA foi alijada da administração informal da Feira da Madrugada em 2010. Logo depois, há indícios de rompimento do empresário com Agnaldo Timóteo, de quem era aliado. Na carta, o vereador do PR agradece as "coisas boas" que o antigo aliado lhe proporcionou.
No fim, Timóteo lamenta o rompimento: "Os maus conselheiros te levaram a peitar o Waldemar [sic] e, lamentavelmente, te ajudaram a perder sua galinha com ovos de ouro. Que pena!"
Comerciantes ouvidos pela Folha confirmaram que o Valdemar mencionado na carta é o deputado Valdemar Costa Neto, que, depois da saída da GSA, teria passado a negociar com o grupo que passou a administrar a feira, coordenado pelo advogado Ailton Vicente de Oliveira.
Tanto Valdemar quanto Oliveira negaram cobrança de propina. Agnaldo Timóteo se recusou a comentar o caso.
TAXA ILEGAL
O terreno federal em que funciona a feira passou a ser administrado pela Prefeitura de São Paulo, que, em dezembro de 2010, publicou portaria no "Diário Oficial do Município" em que proíbe a cobrança de taxa por parte dos administradores.
Mas recibos obtidos pela Folha mostram que continua havendo a cobrança de uma taxa de condomínio de R$ 300 pela empresa Novo Oriente, de Ailton Oliveira.
"A carta e os demais documentos que obtivemos são muito esclarecedores do esquema de propinas, chantagens e pressões que existe nessa feira", afirma o deputado Ivan Valente.
"Tanto que eles conseguem arrecadar uma taxa, apesar da clara ilegalidade", conclui o congressista.
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