Prefeito afirma que não cabe a ele coibir fraudes na criação da sigla
Promotor vai pedir à PF que investigue uso de assinaturas falsas de apoio a novo partido, revelado pela Folha
TATIANA SANTIAGO
DO "AGORA"
FLÁVIO FERREIRA
DE SÃO PAULO
O prefeito Gilberto Kassab disse ontem que não coordena a coleta de assinaturas necessárias à criação de seu novo partido, o PSD, e que cabe à Justiça Eleitoral fiscalizar e punir eventuais fraudes.
Ontem, a Folha revelou laudo técnico que comprova a falsificação de assinaturas em três listas de apoio entregues a cartórios eleitorais do Rio e de São Paulo.
O promotor eleitoral Márcio José Lauria Filho disse que viu indícios de "fraude feia" e pedirá à Polícia Federal que investigue o caso.
Kassab se eximiu de responsabilidade pelo episódio. "Eu, prefeito, estou cuidando da Prefeitura de São Paulo. Esse é o papel da Justiça Eleitoral. Por isso, é necessário que as assinaturas sejam checadas e certificadas."
O prefeito corre contra o tempo para apresentar cerca de 490 mil assinaturas até setembro. Sem isso, o partido não terá registro para participar das eleições de 2012.
Segundo o prefeito, a lei impõe essa etapa de verificação das adesões com "sabedoria". Ele disse acreditar na possibilidade de "sabotagem" de rivais para atrapalhar a fundação da legenda.
"Sabemos que nesses processos tem brincadeiras, tem sabotagens, leviandades. Aqui em São Paulo, por exemplo, os militantes que coordenam dizem que diariamente chegam voluntários levando listas e listas de assinatura", afirmou o prefeito.
"O partido não tem condições de checar, por isso é encaminhado para a Justiça Eleitoral. Mesmo assim, muitas delas são descartadas por visualmente ter claramente uma situação de suspeita em relação a validade."
Apesar do laudo pericial, Kassab disse que o processo para criação da legenda segue normalmente. "Nos próximos dias, estamos finalizando a implantação definitiva do PSD no nosso país."
INVESTIGAÇÃO
Promotor da Zona Eleitoral de Ermelino Matarazzo, Márcio José Lauria Filho disse que a PF vai apurar quem são os responsáveis pela suposta prática de crime eleitoral.
"Os indícios são de que houve fraude feia. Poderá ocorrer o enquadramento no crime de inserção de dados falsos em documento destinado à Justiça Eleitoral."
Para ele, as irregularidades podem comprometer a criação do PSD. "Como é que se dará o registro a uma entidade que já começa com fraudes?", questionou.
As medidas para barrar a criação do partido só poderiam ser adotadas pelas instâncias superiores do Ministério Público Eleitoral, segundo o promotor.