“Obras que se arrastam já custam R$ 823 mi a mais” – Jornal da Tarde

 

Caio do Valle
Tiago Dantas

Planejadas para melhorar a vida de quem mora em São Paulo, obras públicas de destaque atrasam até um ano e meio, comprometendo a qualidade de vida em seus arredores. Enquanto aguardam as inaugurações, paulistanos sofrem com poeira, barulho e sensação de insegurança. As intervenções que custam a ficar prontas provocam, ainda, um dano considerável aos cofres públicos. O Jornal da Tarde avaliou sete importantes projetos da Prefeitura e do governo do Estado iniciados a partir de 2007 e constatou que a lentidão já representa um gasto excedente de ao menos R$ 823 milhões (veja quadros ao lado).

Sozinha, a ampliação da Marginal do Tietê, prevista para terminar no fim do ano passado e que ainda não está pronta, é responsável por 91% desse montante. Já foram gastos R$ 750 milhões a mais do que o R$ 1 bilhão orçado inicialmente. Para a urbanista Lucila Lacreta, diretora do Movimento Defenda São Paulo, a obra é um bom exemplo do que a falta de planejamento do poder público pode causar. “Foi um gasto absurdo, e os problemas (de trânsito) continuam. Muitas vezes, essas intervenções não estão inseridas no contexto urbano.” Quem passa pela via encontra asfalto sem faixas divisórias, como perto da Ponte do Piqueri, na pista expressa, sentido Ayrton Senna.

Há uma pendência ainda mais visível. Prometida para outubro do ano passado, a ponte estaiada que ligará a Avenida do Estado à Marginal será inaugurada – incompleta – nesta quarta-feira, segundo a empresa estatal Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa). Uma alça de acesso para o Bom Retiro ainda não tem data para sair do papel. Sobre o custo excedente, a Dersa disse no início do mês que trata-se de atualização de gastos previstos antes da obra.

A reforma do Largo da Batata, em Pinheiros, na zona oeste, também está atrasada. Além de aguentar quase 40 meses de obras – 14 a mais que o prometido –, comerciantes, pedestres e moradores da região estão descontentes com o resultado final. A Prefeitura diz que a primeira etapa da requalificação terminou em dezembro de 2010. Ainda falta a construção de um calçadão e de um terminal rodoviário integrado à Estação Pinheiros do Metrô. “Fica tudo escuro à noite e essa praça nova parece um terreno baldio”, diz o atendente Ronaldo Vieira, de 23 anos. A Prefeitura afirmou que irá redimensionar a iluminação e continuar a reforma no segundo semestre.

Do outro lado da cidade, na Vila Prudente, zona leste, a aposentada Aidê Risaffe, de 74 anos, vive um problema parecido. Vizinha de um antigo canteiro de obras da expansão da Linha 2-Verde do Metrô, na esquina das ruas Amparo e Tomás Izzo, Aidê lembra que três casas do entorno foram assaltadas nos últimos 20 dias. Ela diz que a área, que fica entre as estações Tamanduateí e Vila Prudente, inauguradas ano passado, pode ser um esconderijo para assaltantes. “Aqui não era assim. A gente fica assustada.”
Para o arquiteto Francisco Zorzete, o descaso do poder público leva à degradação da vizinhança. “Pode fazer os pequenos comerciantes fecharem seus negócios. O governo tinha que ter um plano do que fazer com uma área como essa desde o início das obras.” O Metrô alega que os terrenos farão parte do Parque Linear da Rua Aída até o ano que vem. Serão construídos “ciclovia, pista de skate e playground”.

Ainda na zona leste, a expectativa é grande para a inauguração do Complexo Viário Padre Adelino, no Tatuapé. Iniciada em 2007, a construção de um viaduto estaiado sobre a Avenida Salim Farah Maluf só deve terminar em agosto, dez meses após o prometido. Segundo o governo municipal, a demora se deve à complexidade da obra e a desapropriações. A retirada de casas do entorno resultou num gasto extra de cerca de R$ 3,2 milhões para desapropriações nos últimos três anos. Mais R$ 1,3 milhão foi empregado para “reforço do valor contratual”. A obra estava orçada inicialmente em R$ 113 milhões.

O comerciante Carlos da Silva, de 55 anos, reclama que tem de limpar constantemente seu bar, em frente a uma das entradas do viaduto, por causa da poeira. “Aquele terrão (sobre o asfalto) entra todo aqui.” O presidente do Sindicato de Arquitetura e Engenharia (Sinaenco), José Roberto Bernasconi, acredita que quando as obras são bem planejadas antes de começar não há desperdício de dinheiro nem atrasos. “Quanto mais detalhe tiver o projeto, menos surpresa você vai encontrar na execução”, afirma.

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