Cidade está longe das metas de reciclagem estabelecidas pelo prefeito na lei de Mudanças Climáticas, de 2009
Dos 96 ecopontos prometidos, há apenas 42 em funcionamento; cidade não recicla nem 1% do lixo que produz
EDUARDO GERAQUE
DE SÃO PAULO
A gestão do prefeito Gilberto Kassab (PSD) desrespeita a legislação ambiental que ela mesma criou há dois anos.
A lei de Mudanças Climáticas do município exigia que em junho de 2011 os 96 distritos da cidade tivessem pelo menos um ecoponto, local de entrega voluntária de pequenos volumes de entulho. E que a coleta seletiva virasse obrigatória em toda a cidade.
Na prática, nem uma coisa nem outra. Quem precisa jogar fora o entulho da reforma de um banheiro, por exemplo, nem sempre tem uma tarefa fácil. Há apenas 42 ecopontos em funcionamento.
Só as pequenas obras na capital devem produzir 12 mil toneladas de resíduos todos os dias. Deste total, apenas 5.200 chegam aos aterros oficiais do município. Existem ainda 1.500 pontos de depósitos ilegais de entulho espalhados por toda a capital paulista.
Além dos entulhos, os ecopontos recebem grandes objetos, como sofás, e também material para reciclagem.
No que se refere à coleta seletiva, a gestão Kassab também patina. Ela capta de forma voluntária apenas 155 toneladas diárias de resíduos para reaproveitamento.
Essa quantia representa menos de 1% das 17 mil toneladas de lixo produzidas diariamente em São Paulo.
SEM PLANEJAMENTO
"Essa política climática tem um lado positivo. Ela contou com a participação da sociedade civil na sua construção", diz Pedro Torres, coordenador da campanha de clima do Greenpeace.
A ONG participa do comitê intersetorial criado pela prefeitura paulistana para acompanhar as políticas públicas no setor ambiental.
"Não houve planejamento. As metas da lei eram muito ousadas. A dificuldade para cumpri-las é enorme", afirma o ambientalista. "Deveria ter ocorrido um escalonamento [de metas] maior."
Os objetivos listados para a questão do lixo são apenas alguns dos inseridos na política de clima de Kassab.
A grande meta desta legislação é fazer com que as emissões de gases de efeito estufa em São Paulo baixem em 30% até o ano que vem.
A importância desta redução tem tanto desdobramentos locais -com a poluição menor, a saúde melhora- quanto globais -o planeta, na média, aquecerá menos.
A prefeitura, no entanto, deve ter dificuldades em alcançar seus objetivos.
"Será muito difícil reduzir as emissões em 30%. A não ser que ocorra uma revolução. O grande vilão da cidade é o transporte", afirma Torres, do Greenpeace.
O atual secretário de Meio Ambiente da gestão Kassab, Eduardo Jorge (PV), disse, na época em que a lei passou a valer, em 2009, que as metas eram ousadas, "porém factíveis" de serem cumpridas.
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